R tem um olhar meigo. como se abraçasse e ao
mesmo tempo envergonhado a fugir de se mostrar. e procuro-lho de lho
querer. porque me sinto bem nele. abraçada. na meiguice do olhar. não
podia ser meu pai, apesar de ser mais velho. embora fosse bom ter um pai assim.
assim como é tê-lo como amigo. aqui no pertinho das mãos.
conta-me todos os confortos que me faltam. não sei como os sabe. talvez
mos espreite na voz. e tece-me as histórias que arrecadou vida inteira.
e tem muita vida. sei que a tem pela cor dos cabelos. ondulados, cor da
neve que lhe cobrem a cabeça. farta de ondas. ainda.
sabes que
numa relação há sempre três intervenientes, diz. o homem, a mulher e a relação que os une. e colhe-me o espanto
sem surpresas. suspeito que gosta dos meus espantos. acho até que é
nisso que se maravilha. nesta minha transparente vontade de apender e
nada saber. espero que me diga toda as palavras que enchem esta história
já a fazer sementeira no plantio da minha sede.
um homem e uma
mulher juntos podem amar-se. muito.e decidirem ter uma relação. e não
cuidarem dela. não haverá amor que resista. nem relação que permaneça.
olhámo-nos. até que as minhas interrogações deixassem de o ser.
acontecia-me perceber devagarinho aquelas divagações. assim como os
primeiros passos de dança. primeiro atropelados e depois como se
fizessem parte de mim e R dizia, parece que voas e eu achava apenas que
eram os braços dele à volta da minha cintura que me davam asas. como as
suas palavras.
nem sei porque me lembrei de R, talvez porque às
vezes tropeçamos em coisas vulgares no dia a dia e parece-nos ouvir a
música distorcida. pensamos que é melhor parar a música ou então mudar
de par.
onde quer que estejas R, obrigada por tantos momentos de espanto.
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