Se fosse árvore não morreria nunca. Pelo menos no tempo das nossas memórias. De tanto durar. De tão forte ser.
É mulher e aquelas pernas já galgaram campos, aqueles braços muito peso levantaram.
Agora fica-se aqui. E ninguém a acode. O Manel Cardoso vem-lhe à boca
nos momentos de aflição. E se demora prefere morrer. Nunca assim se
viu. Quando ele chega pergunta-lhe onde está. Perdeu a memória dos lugares. E das perguntas que faz. Repetidamente.
Oh senhor, ajude-me. Não me deixe aqui sozinha. Ai que nunca fiz mal a ninguém...
Por aquelas mãos, agora impotentes, já se esventrou a terra. Já se matou a fome aos filhos. Agora não.
Se fosse árvore talvez bastasse dar-lhe água.
E não se ouviriam os gritos.
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