segunda-feira, 6 de junho de 2011

Um dia acontecer-lhe-ia


Sim, um dia acontecer-lhe-ia. Embora nunca acreditasse nisso. Prometera a si próprio que nunca deixaria tal coisa fazer-se. Bastara-lhe a vida ter-lhe já trocado as voltas por demasiadas vezes. Agora fincava os pés no propósito de só fazer o que então prometera dela fazer. Nada mais. Daí nunca se arredar. Até o Nunca acabar. Como todos os nuncas e até sempre. Ele sabia disso mas não estava ainda preparado. Nunca se está.

Quando a conheceu disse-lhe o mesmo que dizia a todas as outras. Nunca se escondia atrás de nada. Duraria enquanto durasse. Nunca mais. Havia vida para além dela. Não vivia para ninguém. Prometera-o há muito tempo.
Também ela. Assim dava tudo certo. Também ela nada mais queria. Gostava do que via agora, ali, à sua frente. O que viria depois era só depois. O que estava antes pertencia a um tempo que não era o dela. Vivia dos instantes que lhe abriam sorrisos. Das palavras feitas desejo, dos sonhos ali erguidos, dos abraços sentidos, dos beijos trocados e de partir e não se importar de voltar.

Os momentos eram só momentos tão eternos quanto pudessem ser. Sem remorsos nem saudades. Mas inteiros. Sempre. E sem regresso. Nunca. Voavam embalados no sorriso que ambos transportavam. Em todos os momentos.

Um dia ela voou mais alto. Ao lado de alguém que conheceu. E abraçou de sorriso aberto. Ele continuou o seu caminho. De tempos a tempos, na companhia de outra também, sentia-lhe a falta do sorriso, do cheiro das palavras livres. Murchou-lhe na cara o sonho e a semente da saudade regada pela ausência cresceu-lhe no opaco dos olhos.
Acontecera-lhe finalmente. Foram as chuvas desse Outono que lhe lamberam a cara repetidas vezes. Ninguém o confortou.
Mulheres não lhe faltaram.

Ela voava numa Primavera qualquer.

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