quinta-feira, 23 de junho de 2011

Vestir-se de nada

Todos os dias veste o sorriso que lhe fica cada vez mais apertado. Demora cada vez mais a compô-lo e a estendê-lo. Já tem dificuldades em abotoá-lo. Começa a esgaçar em alguns lados e disfarça-o com remendos que dificilmente contêm a força das coisas que dentro de si esconde.

Todos os dias. Com o despertar do relógio. E tão assíduo assim.

Camada a camada, arruma as despedidas, as perdas, as desilusões. As dores, enfim. Nódoas negras a precisarem de camuflagem.
Não lhas apontem a dedo pela rua, nem a queimem os olhares que nada sabem, afinal.

Só o espelho a desvenda. Até o sorriso se rasgar.

E sem cobardias, enfrentar-se inteira. Abrir diques e largar lágrimas como quem abre sorrisos, com a mesma simplicidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário