Um pingo, dizia-me P um pingo pode definir aquilo que que eu acho que pode ser felicidade. Espera P, um pingo? Mas o que é um pingo e porque pode ser um pingo? Eu explico-te disse-me ele. Todos os dias bebo um de manhã e à noite. Neste mesmo café. Não pode ser noutro. Não sei porquê, não me sabe tão bem. Aqui, todos os pingos que bebo me sabem bem. Têm uma constância de sabor e qualidade que aprecio. Sei com o que conto. Fico sempre satisfeito.
Fiquei curiosa. Com o pingo e com o sabor da felicidade. Quis provar a felicidade. Perguntei-lhe se o podia fazer com ele. A dois devia ser ainda mais saboroso. Faltava-me saber o que era um pingo. Não era mulher do Norte e não tinha o acesso aos códigos linguísticos. Desvendada a receita da felicidade não me parecia difícil tomar o remédio. Era só beber café com leite em chávena pequena, aquilo a que chamamos na zona onde vivo, garoto. Pedimos em conjunto o pingo. Daquele café. Vi-o beber deliciado o seu. Com o constante e esperado sabor e qualidade. Experimentei o meu. Esperei ansiosa a minha dose de felicidade. Não a tive. Não consegui beber o pingo. Não gostei do sabor. Quase tive vergonha de rejeitar a minha dose de felicidade ou quebrar a constância, a linha sempre contínua e viva daquela coerente felicidade. P admirou-se e provou o meu pingo. Também não gostou. Podes devolver, trazem-te outro. Não, deixa, não faz mal. Fico assim. Fiquei a olhá-lo e pensei. Era assim que devia ser. Quando o que nos faz constantemente feliz num dado dia não nos faz, devolve-se, reclama-se e recebe-se de volta sem demoras aquilo a que temos direito. É, a felicidade devia ser como os pingos.
E a ideia da constância, agrada-me. Mas continuo a pensar cada vez mais que é nas pequenas coisas que somos felizes e inconstantemente!
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