Há muito que não havia portas naquele lugar. Todos os sítios eram de passagem sem entraves. Corria por eles o vento em assobios de miúdo travesso, a vasculhar cantos e varrer sombras. Atrás o sol até onde podia.
Era aí, onde ficava mais frio que gota a gota, escorriam em segredo as histórias que ficaram por contar. Palavras simples trocadas na azáfama dos dias são agora silêncio.
Não ouso profaná-lo. É na ponta dos pés e de mãos estendidas que tacteio o caminho que me chama. Nas minhas costas sinto a luz a despedir-se. Fico cega. Deixo-me cair. Encosto-me a uma parede e sinto um arrepio. Tapo a boca para reprimir o grito que se solta do peito. Tento de novo. Sei agora que me encosto à pele desta casa. Deixo-me estar. A pouco e pouco percebo o que rodeia. E ouço. Tudo o que há para ouvir.
É o assobio do vento que me lembra que está na hora de voltar. Um rasto de luz também. Muito pouca, já.
Vou muito devagar, com vontade de não sair. Sinto-me mais leve e levo tanto dentro de mim!
Foi quando a luz me incendiou os olhos e senti que pertencia ali, que percebi que era comigo e com mais ninguém que tinha estado. Só a mim me tinha ouvido.
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