Esperou-a no mesmo sítio de sempre. Não por hábito ou preguiça. Também não era um ritual. Não era homem de rituais, nunca se pensara assim. Sabiam-lhe bem as esperas naquele lugar. Como se não se medissem de forma nenhuma. Como se a pressa e o vagar finalmente se tivessem entendido e de mãos dadas limassem esquinas e oleassem engrenagens na máquina do Tempo.
Hoje não levaria nada. Havia sempre qualquer coisa que levava para aquelas ocasiões. Um livro, muitas vezes um que tinha dificuldade em ler. Fotografias que encontrava e queria legendar. Às vezes a sua companheira, a velha máquina analógica. Não se habituara ainda às digitais. Fazia uma ou duas fotografias. Gostava de captar as emoções das pessoas, de as surpreender naquele lugar mágico. Outras vezes levava os binóculos que pertenceram a seu pai. Carregava nele um certo voyeurismo que alimentava de vez em quando, nunca o negou. Dissimulava-os num saco de cabedal que trazia a tiracolo e escondia quando alguém passava. Ou debaixo duma revista que também gostava de trazer para ali. Deixava-a por vezes aberta em cima dum banco pelo prazer de a ver folheada pela aragem do vento. Era o despertar suave dos pensamentos que vagueavam em liberdade.
Mas, hoje, os braços pendiam e só a espera acontecia. Seria a última vez que ali estaria.
O Sol foi-se. A Lua chegou.
Olhou à sua volta. Não havia mais nada para carregar na mala de tanta coisa para lembrar.
Agora, sim. Podia fechar os olhos.
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