A porta estava no trinco. A casa no silêncio , não fora o rasgar de papéis denunciá-la. Segui o trilho da nesga de luz. Na ponta dos pés.
De costas para a porta vi-a sentada na sua secretária. Arrumava papéis.
Ao seu lado um monte desgovernado. Rasgados, amarrotados, perdidos em vincos e em cores que já não se usam.
Vejo-lhe os movimentos frenéticos. Percorre agora uma pilha de livros que amontoara do outro lado. Risca quase com raiva palavras escritas em páginas que ora arranca. ora conserva agarradas. Encaixota.
Pára de tempos a tempos para acomodar a convulsão que lhe salta do peito e limpar com as mãos abertas a água que lhe impede a visão.
Tem muito ainda para fazer. Olha para as estantes e levanta-se da cadeira.
Saio como entrei.
Não quero ser testemunha deste crime. Porque aqui morreu alguém.
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