sexta-feira, 21 de setembro de 2012

no fundo


no fundo
não esperar
nunca
aceitar sempre.
e se esperas houver
fazer delas, pausas
para respirações tranquilas
que nos permitam aparar
o momento
deixando que se esvaia

o que nos sobra.
e caminhar,
na leveza do pouco
que o tamanho do corpo
alberga.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

que


que
o peito tem mais
lembranças que uma memória,
cansada.

que
se rasga a dor
pela mão que abraças
e te crava
o punhal  afiado na carne
que lhe serve de cama.

que
ainda te restas do muito
que eras em tanto
que levam no sopro
dos dias
por lugares
onde só voam

abutres

sábado, 15 de setembro de 2012

um povo a espreguiçar-se


há um povo a espreguiçar-se
entre o cinza das manhãs.

estende-se a lisura
da mordaça arrancada
ao sonho atravancado
no que deixou de se
ser.
escreve-se agora esperança
no branco linho
dos dias.

enquanto a voz for de dentro
e se soltar ao desejo.
haja vontade
na gente, de a fazer
caminho,
no tempo das nossas
vidas.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

never say goodbye


nem é voltar a ti. nem a um tempo
perdido
porque afinal ainda me brotas em
arrepios como se fosses a brisa
de neblina matinal na janela
dum novo dia
que agora abro na surpresa de
mais um encontro.

sem que pausas houvesse

entre tanto caminho que não se mede na distância
em que me cabes, assim,
dentro deste abraço que sabes, quando
lhe moraste dentro.

há casas que nunca perdem o cheiro
de quem as habita.

never say goodbye.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

não me apetece falar de amor


não me apetece falar de amor

nas horas apertadas
da fome que me entorpecem
os gestos.
na fúria que me cresce
em vazios semeados
por vozes que ditam tempos
de terras ao abandono
de quem as queira
roubar.

vai-se embora desta terra
o sangue que lhe corre nas veias.

desfalece nos meus braços
a esperança
da semente que noutros
lugares, faz plantio.

morre este povo,
em pedaços, retalhado.
a cada hora abatido
de ser gente, ser inteiro.
na casa onde nasceu.

não me apetece falar de amor
e tanto amo, esta terra!

sábado, 8 de setembro de 2012

a hora da liberdade



moro num país arredado
dos meus sonhos.
longe da minha vida, exilada
nas mãos dos que me sugam
as forças,
mas não me calam a voz.

cresce nestas entranhas,
onde falta o pão,
o grito aceso, da palavra
atenta
à hora que chega
em sangue vivo

para redimir esta liberdade
açaimada.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

o teu sorriso


o teu rosto sorria-me no lado onde
faltavas.
ali, na minha frente.
e eu, respondi-te no mesmo jeito
como se não houvera intervalos
entre os teus olhos
e os meus.

não me vieram aos lábios
as palavras com que adornavas
os tempos de silêncios
que nos despiam em desconcertos.
essas, não.
nem as outras, nem outras quaisquer.

foi o teu sorriso brando e o verde claro
desse olhar
que me abriu, mansa
esta ternura de te deixar aqui voltar.

domingo, 2 de setembro de 2012

o fumo



de costas para o mar, o fumo
dizia-me que o fogo ardia
por ali.
e o meu céu cobria-se de luto.

lágrimas de cinza vestem
a pele desta serra que me beija
os olhos.

como se fosse noite



como se noite fosse, apagar o fogo
que no céu faz dia
porque em terra  se acende
o lume a queimar o pão que à boca falta.

é a aflição e a gente que mata pela água
a sede a este ladrão que nos rouba
a vida.

sumam-se os cansaços que a hora é
de vencer o demo.

sábado, 1 de setembro de 2012

ali





ainda não acendeu
as luzes, na casa
onde, de cor, os seus passos
lhe invadem os espaços.
suspeita encontrá-lo
onde os seus olhos se lembram

e recusa-se.

ali,
de cortinados corridos,
mora uma mulher
de olhos fechados.
dentro deles, um cemitério de rios
de onde as chuvas
emigraram.

palavras escorreitas


digo-te palavras escorreitas,
mesmo  se em tortuosas
linhas, escreves as que guardas,
do que sou.

sou de água feita, da
nascente das nuvens
que te enchem
os olhos
quando não me tens.

corre-te nos lábios, a palavra
virgem, com sabor a sal
que colheste em mim.

sei-a quando no meu corpo
se faz voz.