sábado, 24 de setembro de 2016

A cidade

A cidade já não me pertence. Longe que está na minha vontade de a percorrer. Nos pés  trago os cansaços. Nos braços o vazio. De tudo me ter deixado.
Só nos olhos conservo a memória. Que se desbota na linha dos dias.
Até se apagar.

Falta

falta me o sol que rasa os teus lábios.

Manhã

Na polpa dos dedos o cheiro da manhã. Nos olhos a colheita. És fruto amadurecido na minha vontade. De te ter.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Os poetas são feios

Os poetas são feios. E é da beleza das palavras que se adornam. Um exercício difícil com o qual se debatem em dúvidas.
É na simplicidade que encontram as respostas. Para as dúvidas. Que ora lhes desenham um sorriso, ora lhe semeiam lágrimas.
Não olhes para os poetas. Repara antes nas mãos que dão voz ao que lhes vai dentro.
Talvez assim te esqueças de quão feios eles são. Talvez assim te demores no que vale a pena.
É preciso que a beleza seja alheia ao que vês. Que seja honesto e puro o que colhes quando a semente madura dos poetas nasce nos teus lábios.

quero-te aqui



Quero-te aqui. Neste lugar onde todos os outros nascem. Rente à pele que me veste. A caminho do que os olhos alcançam. Mesmo fechados. Porque é pelos teus gestos que me guio.

sabes



Sabes as ruas de cor. Tantas as vezes que lhes puseste os pés. E perdes- te agora. As ruas mudaram os cheiros. Falta-lhes o viço das cores. E onde os teus passos ecoavam ouve-se o silêncio. Se te falta o amanhã, perdes- te no passado. Onde agora moras. E no entanto sabes as ruas de cor.

a vida

A vida despeja- se num ai. Como tudo se resumisse ao ar que bebemos. Nada mais. O que somos nós entre as golfadas ausenta- se. Noutro que vem na sede do que o faz viver. Mesmo que um corpo nada diga, neste silêncio da partida, são as palavras que buscamos. E as mãos que não mexem mais. Precipícios que os dias desenham. No alvor da morte.


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

alegria

há uma alegria desenhada nos gestos largos. onde sorriem todas as palavras que cabem no contentamento. como se fizessem abraços. antecipados no colo. a semear dias num corpo prenhe de futuro. é desta alegria que se constroem os sonhos. a que chamamos esperança.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

a equilibrista

Ninguém diria ao ver-lhe o redondo da cara e a figura roliça, que fora equilibrista. Num circo grande de há muitos anos. Desde que se conhecia até ao dia em que cruzou os olhos com o rapaz das farturas. Ele lá queria vê-la debulhado pelos olhos alheios! Conta que já tem dois filhos e a saudade daquela vida linda. Acrescenta. E das palmas, que agora só quando morrer. Dos artistas despedimo-nos com palmas! E o sorriso vagueia no tempo que agora não quer para os filhos.

esperança

pinto a esperança com a cor dos teus olhos.

mergulho as mãos, cheias do vazio que me alimenta a febre, no sal com que me temperas os lábios. há um mar a soletrar-me as palavras. que procura pouso nos teus ouvidos.
mas tu amanheces onde eu anoiteço.

somos a lonjura.

pinto a esperança com a cor dos teus olhos.