quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Despedida

E, quando de tanto pensar, a dor se instala numa incómoda esquina da alma antes pressentida e agora desarrumada e pesada. Muito pesada.
Verga-se o corpo. Desiste-se da altura. Visita-se o chão que os pés pisam cansados em derrota. Arrastando-se num devagar forçado.

Abandonar as palavras em qualquer não lugar. Mergulhar em regresso ao útero da terra-mãe.
E num suave embalo adormecer.

Despedir-me assim.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cedo demais


Cheguei cedo, bem sei. Cedo demais para ti. (E tanto tardavas já tu em mim!)

Deixei-me ficar naquela amurada sobranceira ao rio de onde sonháramos tantas viagens para fazer.
Caía uma chuva miudinha. E a cidade, já de si cinzenta, não perdia o brilho que me ganhara o coração há muito tempo. Por um bocado deixei-me vaguear pelos poucos transeuntes que por ali andavam. Na esplanada, três ou quatro mesas estavam ainda vazias. Haveria espaço para nós. Fiquei mais um pouco.

Vi-te chegar. Ou melhor, ouvi-te. O teu riso inconfundível, sempre tão límpido e claro como o de uma criança. Vinhas acompanhada. Brilhavas. Em passos rápidos abrigaram-se na esplanada que daqui via. Sentaram-se a uma mesa e deixaram-se ficar entre risos e conversas que não percebia.

Apertei melhor o casaco. Olhei à minha volta sem pressas. A chuva caía agora mais intensamente. De mãos nos bolsos caminhei até à ponte que cruza este rio. Olhei uma vez mais para trás. Não te via nem ouvia.
Da minha cara escorriam rios onde nunca se sonhariam viagens.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

É...


É perder-te sem ainda te ter tido. Largar cada pedaço de ti sem o saber...

Foi no leito seco dum rio, onde julguei ver o verde, azul das águas serenas que banhei os meus sonhos, cobertos agora de pó.
Do nó que me atropela as palavras que não te disse, esgaçam-se memórias dos versos em que secretamente, se fizeram. Agora é tarde demais.

(Serei sempre aquela que vês, nunca aquela que não deixo que vejas)

Como podes não ouvir a tempestade, se me ensurdece os ouvidos?

domingo, 2 de janeiro de 2011

Fico

Toco-te, esfumas-te. Sonhei que voavas para mim.

Prometo agora uma vez mais, de olhos abertos, não os voltar a fechar. Em sono nenhum inventar-te. E, se me cruzar contigo, não terei memórias de quem és!

Penas pousam sobre mim, ainda agora.
Serás um pássaro, talvez. E eu, um inverno do qual te ausentarás em procura de novas primaveras.
O primeiro nevão levou de mim o canto que me fez olhar-te e me emudeceu.

Outros virão e no degelo, serei água na ânsia da sua sede.

Fico. Assim.