são cinco os bolsos e mais os dias. sempre mais os que sobram de onde não há. já se acostumaram os ossos à pele. nesse contar que antes não se sabia escondido onde a fome se amansava. esculpido agora nos dedos esguios que estendes a medo. para o pão te acamar o corpo de mazelas cheio. e ninguém te acode.
(todos somos tu.)
domingo, 29 de setembro de 2013
sábado, 28 de setembro de 2013
mentem os gestos
mentem os gestos.
que me vês. mentem a par com o que ouço.
porque conheço todas as verdades.
que não digo. cozidas no silêncio destes dias. inferno, dirão.
no queimar da pele, assim a marcar fundo as palavras agrestes de tudo dizer.
na linguagem que só eu entendo.
no vergar das dores. que me são presentes. tudo o resto se foi.
amanhã, se por cá andar, direi da vontade que trago ancorada.
e tudo será da mesma maneira. mas serei verdade.
ainda que doam.
os gestos.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
tu vais a eito
mesmo que a fila não aconteça, o número cai. o que se pendura acima do direito pêndulo. agora parado. num segundo apenas. do suspiro exacto. a que sucumbimos. sem regressos. e de nada valem os lamentos mergulhados no sal das lágrimas qe os olhos vertem. como rios. ou fios de nada. que não traduzem o que a vida calou quando a boca fechada se recusou à fala. não recuses o grito que te esventra o peito. o tempo evazia-se e tu vais a eito.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
esta casa não é minha
não me atam os pulsos as algemas que me prendiam ao tempo. e os muros onde as janelas se abriam escancararam-se ao frio das ruas. onde os passos me levam cai o corpo. quando nada mais lhe apetece. por nada ter. e aos olhos de todos deito-me cego de tudo me ausentar. faço desta casa alheia o metro e meio do que sou. abrigado do que me deixam. ao abandono do que não querem mais. como eu. resto de tudo. inútil até que me suma do desconforto de quem passa. que esta casa não é minha.
mapas
há mapas ainda por escrever. e quem os adivinhe nas palmas das mãos. nas linhas sem nome abertas nos sulcos que atravessam caminho como fios. onde se penduram destinos. e no balanço entre um pé e outro deixamo-nos ir.ou forçamos a aventura de viver. a cada dia. até que as linhas se afundem no precipicio que se debruça no parapeito das mãos.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
a cidade
a cidade veste-se todos os dias. a toda a hora. no espelho dos olhos que a miram, esquecidos da labuta de quem a bordou. nas horas esconsas. por entre os tortos dedos a cerzedura e o ponto une as linhas soltas. de mais um dia por tecer.
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
a ultima canção
a certeza das coisas
por vezes precisamos acreditar na certeza das coisas feitas. que temos em nós o melhor que podemos. arredar as interrogações e as dúvidas do caminho e fazê-lo mesmo na dor. até quando chove é tempo de crescer. e as trovoadas são só sinais de forças maiores. toda a hora é de se fazer. para onde for. então que seja da melhor maneira. com todo o amor com que nos damos.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
pelo tempo de todas as primaveras.
entrei pelo teu sorriso adentro. essa casa em mim antiga. onde os cantos, mesmo escurecdos de sombras me sabem pelos cheiros. que de encontros se fazem. no tocar das peles. escamadas entre quanto me queres e eu te desejo. flor encarnada no vaso do teu corpo. a florir pelas frestas dos meus dedos.
pelo tempo de todas as primaveras.
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
quero
terça-feira, 17 de setembro de 2013
partir
ainda me correm nas veias as memórias. e pelos olhos
julgo ver as paisagens como dantes. mesmo
que do velho reboco sobrem sombras do que foi. as palavras
são outras. que não conheço. têem nomes
a que não respondo e me abrem o espanto que me resta.
na intacta vontade de querer mais.
do pouco que tenho para andar.
preso no tempo que contado está. como se fosse esmola
e muito fosse. nestas paredes que não quis e onde
me puseram, como condenado e nenhum crime fiz
senão fosse o mal que me tolhe a vida. no vagar
que me cobre os dias. que tão longos são por não ser
de onde quero.
estar em lugares onde as mãos se cruzam e as palavras
me sabem como se nada mais precisasse
senão respirar. nas pernas direitas e nos braços ligeiros
a crochetar afagos por onde me entrego. como se partir fosse
ainda cedo e fosse a sorrir sem o perceber que
acontecesse.
queria.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
não chores mãe
tenho cá dentro a vontade a crescer, de ser maior. do tamanho das chamas que gritam na rouca voz dos pinheiros. antigos, de muitos anos. perdidos nas memórias das somas. sei já de cor os toques que me chegam aos ouvidos a pedirem-me pressa nas pernas. e a vontade de matar a sede ao demo. não fossem fracos os meus braços e eu lhe daria guerra que já nasci soldado.
não chores mãe esta ânsia que me abraça o corpo todo. guarda esse rio inteiro para eu nele repousar. é nos teus olhos que penso quando o medo me vem buscar.
nº16
somos nós, sozinhos. na cama da rua. onde todas as portas são o muro desta casa. imensa. que nos alberga. até ao tempo de nada sermos, aqui. na migalha sedenta de pousio. cansada do regateio dos lobos. que depois de nós, no pó, no mesmo barro se tornarão.
para já temos tudo isto. a imensidão de coisa nenhuma. a tempo inteiro. que nenhuma porta encerra.
domingo, 15 de setembro de 2013
hoje
hoje. é já agora. este instante a que te agarras. sente-o na brandura da pele. deixa-o encostar-se ao peito. ao teu. acomoda-o. no ritmo a que o coração tão bem sabe e balança-te ao que se segue. já a seguir.
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
até tudo nos tirarem
( na mais bonita livraria que conheço. um lugar onde já não se pode fotografar)
há tempos em que tudo nos pertence. mesmo não sendo nosso. podemos colher as coisas no olhar debruçado nas maravilhas a cada instante. sem nada nos pedirem. e somos ricos mesmo não tendo nada. basta-nos o espanto a encher-nos o peito e a arregalar-nos a boca. que não se cala na admiração de existir. até tudo nos tirarem. mesmo que seja o prazer de olhar e guardar. na máquina que trazemos ao peito.
latejar dos dias
espero aqui o latejar dos dias. no gota a gota que antecede a despedida de todas as vezes que te vejo no encontro dos meus olhos. deixo-os caídos na procura dos teus passos. inútimente. todos os vestígios se foram na agulha que me anestesiou os teus cheiros. pensados só no sabor que não tenho quando a custo engulo a maçã desfigurada no meu prato. por colo esta poltrona onde me afundo. e os teus braços não são remos que me salvem desta tormenta.
dos meus já há muito que não sei. embora me falem deles, as dores que sinto.
lembras-te como eu era antes? fica por aí pelo tempo que puderes. porque dentro de mim, ainda o sou. só este corpo não se lembra.
desmemoriado. longe de quanto foi. à espera.
até se ir.
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
não há nada
não há nada que nos caiba nas mãos.
secas que estão.
os ossos cansados desfazem-se
no pó que nos cobre o pranto.
e os múrmurios acendem-se
inúteis
onde os ouvidos são moucos.
são mais os defuntos que os coveiros.
(basta um.)
nesta vala imensa onde perecemos.
iguais.
onde mirra a esperança. faz-se o desespero.
e a loucura é mãe que não deixa os filhos.
não tarda que do ventre da terra
se levantem os injustiçados.
secas que estão.
os ossos cansados desfazem-se
no pó que nos cobre o pranto.
e os múrmurios acendem-se
inúteis
onde os ouvidos são moucos.
são mais os defuntos que os coveiros.
(basta um.)
nesta vala imensa onde perecemos.
iguais.
onde mirra a esperança. faz-se o desespero.
e a loucura é mãe que não deixa os filhos.
não tarda que do ventre da terra
se levantem os injustiçados.
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
que longe
que longe me ficas, eu sei. de tormentas me cobres. por mim. no destempero dos tempos,
desalentalados homens de rara semente na terra gasta. que a chuva mói na levada antiga. carregada da poeira de quantos por ela já não choram mais. de ossadas feitas.
e bordam agora estas ruas os ecos de algumas vozes que antigamente falavam a língua do futuro. nestas casas abandonadas de gente.
os que ficam acreditam que nas palavras cresce um jardim. que precisamos regar.
que sabem eles de flores e eu que sei das palavras?
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
nunca mais amanhece!
morre cada um de nós todos os dias. entre tantos que somos abandonados a meia dúzia de quantos não sabem de nós. morrem os que defendem o pão. matam os que fazem cumprir as leis que asfixiam. e o baile continua nos salões engalanados de quem se cobre dos despojos. marcados da miséria que só a nós serve. lá fora a noite acontece como lhe é hábito. amanhã será outro dia. e nunca mais amanhece!
todos os dias
todos os dias são dias de viver. e devemos vivê-los bem. da melhor maneira que sabemos e podemos. mesmo sem saber os nomes. que eles têm. apesar de, nas rotinas das lengalengas dos tempos de criança já se terem acostumado à nossa lingua e saírem acertados no calendário que não precisamos de consultar. de vez em quando acrescentamo-lhes apelidos por lhes colarmos histórias. como se fossem cromos ou fotos de um album que vai crescendo neste rol de dias. e fazemos-lhe a festa. para não esquecer, nem que seja só naquele instante. sim, que os dias agora sa só instantes. apagados irremediavelmente se não os marcarmos desta maneira. são tão fugazes as menórias que repetimos sem descanso o que não queremos. e mordem-nos as dores de o fazer. coxos ou amputados reiniciamos a marcha. porque vale a pena. e celebramos o que há para celebrar. seja o que for porque estamos vivos. e até que a nossa chama se apague tudo valerá a pena.
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
dá me a tua mão
dá-me a tua mão.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
não sabia do fogo
não sabia do fogo, ainda. da língua ardente que lhe cobiçava o corpo. seco. ausente das mãos a bordar-lhe o colo no rente da terra. sobram emaranhados gentios. livres a pedir afagos de manhãs molhadas pela frescura. que tardavam.
agora, de nada precisa de saber. desenha-se tatuagem funda no peito da serra. erguem-se cruzes em seu lugar
Assinar:
Postagens (Atom)