quinta-feira, 31 de maio de 2012

amor

amor
não é arrepio de encosto na pele
e sopro quente no lábio de mel na face a sorrir
não é o rubor que nasce na flor do olhar
nem a mão que cresce na
folhagem de abril.

isso
é desejo a fazer-se.

amor
é a falta que cresce
quando o outro se vai, a saudade que nasce
na noite que cai, a dor
da ausência e da inquietação
quando não se vê
quando não se tem
aquele por quem
de amor
se adoece.

a tristeza


a tristeza não se compadece de ninhos,
atemoriza-se de asas e morre nas gargalhadas
imprevistas, sempre para renascer nas coisas que se seguem ao encostar
das pestanas. mesmo que aí brilhem todas as luzes
nos mais estranhos desenhos. e nos percamos nas adivinhas 
que nunca têm resposta.
nem na lágrima que, estúpida, cai e esmaga a surpresa do fogo de artificio
só para nós a explodir.

pequenos planetas que somos neste imenso
universo,
onde, se nos tocarmos,
deixamos de existir.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

dia 355


os dias
tinham o carimbo dos números
que lhe dava o tempo
marcado pela queda
de sóis e luas
entre desejos adiados
e vontades aprisionadas
nos dentes cerrados
a marcar a pele que rasga
a desmedida sentença
ditada por ancestrais mistérios de amor
traçados
na penumbra dos lençóis amarrotados
onde o teu corpo gemia
no toque descompassado das palavras
que os meus lábios
deitavam no cálice que erguias na floresta
plantada no teu corpo.

todas as paletas tinham cores
onde o arco-íris era aprendiz

e nascia de ti.

palavras limpas


pedia-te as palavras limpas, de arestas dobradas por meias luas
onde os meus ombros coubessem nas tardes
cheias das dúvidas nascidas de silêncios e metades
plantadas no que os olhos colhiam de interrogações
feitas.
queria abraçar-te na redonda certeza de nada mais caber
para além do que te ouvia.
e dos meus braços pendiam retalhos a cobrir a negrura
de águas vertidas no vendaval de todas as perguntas que deixavas
penduradas no estendal
da janela que fechavas para mim.

é em tanto adivinhar que me perco. e tão pouco te
peço.

terça-feira, 29 de maio de 2012

o tesouro


quando te ouvia, apequenava-me,
em cuidados,
de te conservar os traços que
esboçava
no branco lugar dos assentos, onde
dormem as lembranças.

são enrugados os panos
onde as sombras se acolhem no demorado
parto, e a palavra nasce
no banho quente do teu colo
com o sabor antigo das coisas que o meu ouvido
recorda.

aliso a sabão azul a brancura desses tempos
e na eira, estendo tudo quanto sei

cubro o tesouro que guardo. não mo levem.
é só meu.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

amar



...

lamber-te a inquieta pele e apagar
o lume
que no peito explode.
nas manhãs onde
me debruço no espelho dos teus olhos
e as tuas mãos fazem
das minhas
a vontade desamordaçada.

fazer dos lábios, a voz com que te mordo
a carne
e te tatuo com o que sou em ti.
colher-te o grito no meu
embalo,
de mãos crispadas na urgência

de ser.

sou o instante


embarquei neste mar onde me invento
nas marés em que as ondas
se levantam
de preguiças estiradas no meu corpo
abandonado à deriva de
quem passa
na correria do que ainda está para
vir.

sou o instante que
eterno, permanece, na espuma branca que
guarnece a onda a desmaiar dentro
do ventre
que a a criou

domingo, 27 de maio de 2012

para longe


não te conheço já as mãos, nem a cor dos olhos te sei
mais
há uma noite estendida no intervalo que
de nós se fez no brando rodar do tempo caído
em vão.

um baço vidro onde inscrevo as escorridas palavras
é quanto me ficou
no parapeito destes olhos a transbordar.

bebo o sal, faço-me onda e parto para longe de mim.

sábado, 26 de maio de 2012

ausente, já.


são os teus olhos, amor, o lago onde me afundo
e em apneia me entranho na tua raiz
de seiva me visto, minha pele
entre o grito e a calma,

voltar acima.

olhar-te e colher a memória.
alimento que sorvo no sopro da tua boca

ausente
já.

e sou eu



um perfume incendiado no deslizar dos teus dedos
acorda o mar revolto das ondas
a beijar a ilha que agora sou
inventada na vontade de te fazeres marinheiro.

faltam-me as estrelas do teu olhar
na maré baixa de gaivotas secas em voo rasante
sobram-me espumas bordadas na areia onde
enfeito a tristeza que
trago.

ouço ao alto um adeus. e sou eu.

não sei


não sei onde guardas os pedaços de mim. aqueles
que verti nos teus olhos espantados e na surpresa de menino
a abrir tesouros que não eram senão
as mais simples coisas a evaporar-se no frágil
pestanejar das horas.
não sei mesmo se caíram no abismo
onde me perdi de ti
e afinal as carrego comigo, deixando-te
na ausência de nada teres
de mim.

e és barco em mares alheios onde não se avista
este cais onde um dia amaraste
na vontade  da luz que te incendiava os sonhos
que agora levas
a navegar.

o principio


tinhas na mão a nua certeza que eu procurava no
olhar perdido
que  me vias em perguntas vadias
a poisar entre nós.
e eu dava o que tinha,
ainda inocente a fazer-se inteiro
na forma de flor da semente
a desabrochar neste peito
que novo se abria

e  agora eras
o principio em mim.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

quem eu inventei


para ali é o futuro, um dia que ainda não se descascou
fruta inteira de pé preso
na árvore que cresce nos dias a contar
no relógio que brinca de esconde-esconde
a correr atrás do sol depois da lua se deitar
a guardar os sonhos
e a prender os medos que te varreram
a cama onde te embalei
a tremura do beiço e te ajeitei
a manta para te afastar o frio
a pedir mimo no calor do teu pescoço
onde aninho a minha boca no beijo
que te faz rir.

ainda agora aqui  estamos, neste balanço adiado
neste dar de mãos dançado
que aprendemos a fazer.
para num salto te lançares na altura do desejo
da mordida na maçã
para lhe arrancar a semente
fazer o pomar crescer e ser quem eu inventei.

espera(nça)



há uma fome de flores nesta
barriga dorida de securas
atravessada.
uma espinha carregada
de avessos
onde o medo habita
a espetar-se na dureza da terra
ferida de faltas da húmida chuva
em inventados regatos
que sulcam a pele
a tocar-me o corpo
ao desabar
das forças.

saber do verde onde não
chego,
mesmo na altura de todas as vontades
e na pressa de quanto me é devido,
faz do arrepio
que sai da voz que hoje veste a minha pele inteira,
o olhar que um dia se apagou.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

a noite passada


a noite passada levou o teu perdido
adeus
na semente caída
do meu olhar.

e a saudade nasceu
no acordar
da cama vazia
onde se
enruga o
que sobra de ti
em silêncios como facas
afiadas.

dóis-me
não te tendo.

terça-feira, 22 de maio de 2012

simples


caminhas
rente ao chão
na humilde altura
que te dão
os pés.

ganhas
o azul  no branco
voo de
asas emprestadas
pelo tempo dum sopro.
de ser.

o que és.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

podia


podia deixar
a manhã cerzir a puída
noite,
ainda no colo
do meu olhar.

esquecer o perfume a cobrir-te
o corpo

e o meu,
raso
na ausência de aromas.

podia.

alisar as
enrugadas esperas
no caminho
dos dias

mas
não posso adiar
o que já me é devido.

ao longe


traçámos caminhos na palma
da mão
em linhas escritas
por quem te
sonhou
no canto aceso
duma paixão.

um futuro pintado
em bolas de
sabão
interrompe-se
agora
em dias cinzentos
no chão que nos tiram
de voz amarrada

ao longe o vislumbre
do sonho
empenhado.

domingo, 20 de maio de 2012

au bonheur


a porta encostada, ainda
ali. a saber-te.
na espera que não pedi.

se agora vieste,
porque
não estiveste
onde o frio desceu
na crua ilusão
de te
ter?

passos quebrados,
os meus,
nos braços que quiseram
os teus

agora
sou a que passa onde
nunca te deixei.

a meu lado,
quem nunca me perdeu.

sábado, 19 de maio de 2012

não sei


não sei navegar nos teus silêncios

(se um mapa houvesse,
perder-me-ia, na urgência
de os ler)

distantes, opacos,
ensurdeço
no esforço de te entender.
insondáveis as águas
deste imenso
vazio

baixo as velas
e encosto-me à deriva das marés
que há na tua voz.
até um dia

acostar
a ti.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

escureço-me


escureço-me
neste bater de asas
em debandada
que me cobre o peito

pássaros prateados de alma quebrada
buscam-me na saudade
de mim

estremeço no último
vislumbre

distante.

luz apagada


a luz apagada
no canto
da boca
onde as chuvas
caem
perdidas
sem norte.

os barcos
que partem
levam
os sorrisos
cai a escuridão

e o cais

é um esquife
que vai

a enterrar.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

seara


na seara bordada pelas mãos da ceifeira, o vento suão
ensaia uma valsa em mil rodopios.
de  doirado vestida, tecida a papoilas
em verde deitada
és onde me aquieto, minha planura.


decalquei no peito a papoila
vermelha
de pétala aberta no pino da tarde.


e a sede, mergulhou no regato dos meus olhos,

dia da espiga


chapéu na cabeça e mão na mão. no meio do casario os campos para descobrir. é dia da espiga, dizem os maiores. papoilas, malmequeres, ramos de oliveira, espigas e não sei que mais. fazer o raminho e levar para casa. o melhor de tudo é este ar livre e tanta coisa para descobrir. e correr e rir. gosto do amarelo dos malmequeres, e das cócegas que as espigas fazem. e se a mãe não se importasse, fazia uma boneca com a papoila que lhe vou dar... mas sei que a papoila quer dizer amor e vida. e eu quero-lhe tanto e para sempre...

havia um tricotar...



havia um tricotar de esperas na agulha dos dias pousada no regaço das cadeiras naquela mesma hora. um ritual sem pressas a abrigar os corpos que olhavam a cidade. e os olhos de paixão.
as mãos que se cruzavam no entrelaçar dos dedos e um arrepio terno a soprar-nos ao ouvido. lisboa que a espreitar, nos pisca o olho e deixa sós.
todas as palavras poisadas no intervalo que fizemos de nós, crescem como papoilas nos gestos que agora soltamos. e rimos. de tudo.
este desabotoar de memórias que asfixiava apertado sem te ver sorrir, pedia o rio tejo e estas colinas, sim. pedia que deixasse nos teus lábios a frescura dos meus. agora saciados de te dizer o que guardava neste peito amarrotado. de tanta coisa e tão pequena ser.

não sei se volto, nem se quero voltar. a ti. lisboa ter-me-á sempre na vontade de regressar. aqui.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

antes da viagem



podia dizer-te que te amava. talvez por te esperar a toda a hora. mesmo quando não me prometes vir. até nos momentos em que te deixo ficar em recantos que quero esquecer. no medo de me perder em ti.
nas vontades que bem conheço e pensava terem viajado de mim, a assaltar-me os braços que gemem de não terem os teus.
saber-te das pequenas coisas em lugares que não invento e não preciso. lamber na ausência o sabor da tua pele a atiçar a fome que não me cabe nesta falta de apetite que me conheces. mas que me cresce quando me roças a pele e o teu cheiro me envolve como se um casulo fosse.
podia dizer-te que te amava e não me sentiria enganada. ficaria apenas na tontura de querer e não querer esta aventura de não ter o que amo outra vez.

agora


encostas a cabeça ao sono das horas
que nada mais fazem para além
de rodar.
e o tempo balança nas ondas
da pele,
sulcando as tormentas,
afagando as águas
dos rios antigos
que
ainda afluem nesse teu cansaço
de olhos pasmados
para um outro tempo

onde já não és.

finam-se



finam-se pincéis em mesas desbotadas
secam no abandono
de mãos ausentes
no caído desânimo
como invernos
secos
a pedir chuvas
que saciem a primavera
a sufocar
no ventre da terra.

finam-se esquecidos.

terça-feira, 15 de maio de 2012

ténues



ténues as linhas como sombras
em horas onde
sonâmbulo, o sol
se enrosca no precipício da noite

ténues as distâncias
porque
na lonjura me estremeces
a superfície intima
da crua
pele
com que te tapo
as feridas

de sair de mim.

frágil


frágil, na preguiça, ainda enrolada neste romper dos dias
que o sonho me deita na cama desfeita
de gestos intranquilos
assomam-se os olhos aos lugares
onde as vontades habitam
e desenham
esboços
em penumbras

apagadas
ao descerrar das cortinas.

hoje há gaivotas a subir este rio
a bordar
os vales onde me alongo com elas
em despedida
não se constroem pontes onde
as margens se esboroam em despidas promessas
de desvirgindada inocência
ferida

(e corre o meu  rio, sem pernas.
tivesse ele asas,
voaria
como nuvens
neste céu, onde me deito)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

inteira



ainda há pouco
eras
uma rua
onde ecoavam
passos e correrias,
vozes e gargalhadas,

no ombro das amuradas
e nas curvas do teu
corpo
a pendurar-se
no mar
outros corpos debruçados
a sonharem mundos
novos
no sorriso desvendado
de tanto que lhes mostravas.

agora deixam-te
nua
como se nada valesses
e mesmo assim

permaneces,
inteira.

plantarei


plantarei um canteiro
onde as flores
beijem o mar,
um tapete
de perfumes à saída
deste cais
desabitado.

esperarei os barcos
em tormentas
perdidos,
cuidarei suas mazelas
em troca
doutras sementes.

vê-los-ei partir
deste canto prenhe
de esperança
a
desabrochar.

não se adia a urgência


adiámos tudo
e nada.

não se adia a urgência.

morre-se
no abandono
da
espera.

domingo, 13 de maio de 2012

havia


havia uma primavera
no teu olhar a acender-se
um botão de rosa
a despontar em cada gesto

havia.

uma festa no adro
do teu peito
e música no rodopio
dos teus braços

havia

poemas na palavra sussurrada
ao cair da noite e do cansaço
um céu, um mar
um mundo inteiro

onde me perco
porque não estás.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

nestas pedras


invento nestas pedras a fogueira,
a luz que apaga a cegueira,
faço delas
o farol, bússola, mapa,
astrolábio...

que não procures nas estrelas
nem partas
para lá ficar
o caminho dos meu braços
tua casa,
teu navegar.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

desta vez


desta vez não é a ti que o meu caminho chega.
nem a ti, nem a outro qualquer.
perde-se no tonto
devaneio
de se encontrar
rumando sem destino e sem parar.
fico-me
num inquieto mar, a fazer distância,
colo onde aninho
a ilha
que em mim
habita.

partir de ti


é ao deixar-te aqui
que me perco no que fica,
bocado de mim,
em ti
guardado.

sorriso em água
a navegar de vela ao vento
onde
não se amainam marés
nem
vendavais

só tu
lês a estranheza deste canto
por raro ser
este partir
de ti.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

quando

quando o teu corpo tocou
o meu
a palavra desnudou-se,.
fez-se do gesto
verbo
na carne a florir
e um perfume de vulcão,
onde em lava me
escorres,
invade o que resta
de nós.

do sonho


agora,
quatro luas passadas
a um canto
arrumadas,
é ao longe que me deito
no despertar
de alvoradas que me desenham
os rumos.

sou do tempo, passageira
sem correntes
que me prendam.

é do sonho que me vou
e no amanhã que me faço.

nada mais


despiram-se os ramos
de todas os pássaros
choram
os ninhos
no voo das mãos
em corpos
ausentes
flor de sal a beijar
o mar imenso

de nada mais
ter.

terça-feira, 8 de maio de 2012

amanhã


a cidade estende-se
desdobrada
apesar do cansaço
ainda
lhe cerrar os olhos
marejados
de tanto longe
por
alcançar.

um rio especado
na orla da espera
a pedir
viagens para outros
futuros,
sussurra-lhe um fado
que
a urbe entoa
numa voz a crescer

dentro dum peito
apertado.

e amanhã, começa agora.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

inquietas palavras


num breu acetinado
de luas,
abotoadas a noites
por que as horas 
clamam
no passar dos passos
agora dormentes,
baixamos as vozes, estranhas,
paridas
entre dores
num corpo que não nos pertence.


inquietas voltam 
no soco do ventre que vazio
ecoa, 
tanto por falar.


crescem lá palavras,
na raiva que mói
a fome de muito que
aí 
se trancou.




para
sobrar nesta 
terra
um buraco cheio
daquilo que 
fomos.

sei



sei dos estios
onde em pousio
teu corpo dorme
na terra que
anseia
a raiz do
meu..

sei das tormentas
que correm
teus vales
inundam teus rios
e me pedem
navios.

sei.

ali


ali nas arrecadadas manhãs
onde os dias
despertam
no desassombro
de todas as pequenas
coisas

são as tuas mãos
que me
desabotoam os segredos
de granito
esculpidos
na parede dos meus
sentidos

e transpareço
- me.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

confissão



é uma inquieta contradição,
esta,
que faz de mim
o que sou.
aponta-me caminhos,
por onde, desafiante,
não vou.

e acarreto a miséria do lamento
que ficou.

uma história


todas as palavras foram apagadas
na plúvia manhã
que olhos vazios descerram,

impunemente.

de novo.
abrir as mãos e soltar a voz.

há uma história
para
inventar!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

a tua casa


pendurei-te a lua no colo
das noites
e cristal a cristal bordei-lhe
um colar.

sabia-te na apagada luz,
dum frio a crescer-te
na pele.
de
uma casa em destroços,
comida na fome da dor,
a roer
chegadas dum tempo
maior.

emprestei ao vento
estes braços, frágeis.

que fossem teu
manto
na suave aragem.

hoje não quero

hoje não quero,

não quero mais partir deste cais.
este rio que me levava a ti
secou
à mingua do teu olhar.

hoje,
adiei todas as viagens

volto a casa
sou de mim.

terça-feira, 1 de maio de 2012

não há velas acesas


não há velas acesas à tua espera
na mesa onde agora faltas
um lugar vazio estremece no soluço
dum adeus
que não se fez.

como se acende um pavio
quando
a noite nos ata as
mãos?

outro tempo



ficámos ali aprisionados
em inquietas fainas,
de tempos marcados
por donos
que
não o são.

e este mar não tem fim
na revolta a soprar-lhe
as ondas.

neste peito a bater
forte, duma força
que se inventa
crescem asas e há
esperança
duma terra
onde haja pão.