sexta-feira, 28 de novembro de 2014

esta terra

esta terra semeada ao embalo das vozes. como eu, adormecida. e meio palmo crescida de as ouvir. a cada dia. cantadas como se subissem serras e descessem vales. deitadas na planície onde alago os olhos. longe de mares que velam os que partem em fados ausentes de nós.
esta terra canta também dentro de cada um. na sua voz. única.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

ser mãe

ser mãe nasce nos dias. de comer, de vestir, de ralhar e acarinhar.
nasce nas noites de deitar, de dormir ou acordar.
nasce dos gestos. dos nãos. do sim. do abraço. do riso e da lágrima.
nasce a cada passo. e não cresce só quem fica mais alto. também quem os vê esticar.
nasce na dúvida de todos os dias e no desejo de saber mais.
ser mãe é o príncipio. nada mais. mesmo que margem mãe não prende. conduz.

e só nesta travessia se nasce mãe. no vagar dos laços.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

pouca terra

morreu. esperava-lhe o sobressalto. e as memórias caiam-me no regaço. já não sei se sorria ou se apenas guardava aqueles dias de pouca terra nos meus olhos. esquecidos da estrada. que já sabia de cor. e um pedaço de asfalto cobria-lhe os restos. mirrados. há muito que as ervas cobriam a campa das minhas viagens. pouca terra, pouca terra...

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

dizem

dizem que nos fica dentro. mesmo que partam. os que nos enchem os olhos e da boca nos sai o nome todas as vezes que chamamos alguém.
ai, como pode ficar inteiro quando é tanto o que lhe queremos e tão pouco o corpo. amarrotado de ausências!

sábado, 8 de novembro de 2014

ai

há olhos que são de mar e nunca uma lágrima deitaram. ai de quem neles se deixa afundar!