segunda-feira, 29 de setembro de 2014

a vénia

talvez já nada se invente. talvez tudo esteja já criado. talvez saibamos já tudo quanto há para saber. e descuidados que somos, desbaratamos quanto temos. a pensar em muito mais no fraco alcance dos curtos braços paridos.
e há quem do que fazemos aproveite os gestos. hábilmente. com o lacónico sorriso. na tontura do que somos. ainda. porque não crescemos ainda que tenhamos no corpo o tempo e na pele as marcas. e estremeça no riso. com vontade. porque somos assim. ainda veneradores de deuses. sejam eles quais forem. mesmo que no bolso tilinte o vazio.
haja o brilho aceso no olhar e a vénia faz-se.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

descontentamento

às vezes canso-me de adiar o descontentamento. essa palavra que se estende gordurosa na distância que os meus dedos espantados quase negam conhecer. sabem-lhe futuros que o passado lhes coseu nas linhas que me cruzam as palmas das mãos. estas que tantas vezes ampararam rios no lugar onde só o sol pode brilhar.
que da noite sobra ao que ao dia falta. e a luz nasce sempre num sorriso. tantas vezes mirrado.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

as tuas manhãs

as tuas manhãs escrevem-se nos meus olhos.

e as minhas mãos, vazias, olham a nudez que lhes desampara os gestos.
na pele, o murmúrio aceso de te lembrar. e a pedir-te que não me deixes sem que te diga o que guardo a cada instante. de ti.

(pode um dia acontecer, acordar e faltar-me luz. essa que soma os passos com que te alcanço.)

e as minhas mãos, vazias, olham a nudez que lhes desampara os gestos.
aħ, fosse agora manhã, meu amor, e calaríamos todas as noites. no berço das minhas mãos.


ainda

ainda há dias assim. de páginas claras e transparentes.onde o futuro se escreve com os nossos corpos.
que doutra forma seja o imperfeito ausente do que somos. num tempo que a distância não alcance. nunca.

apenas isto

entre nós. apenas isto. a casa a que chamamos nossa. o regresso ansiado. a promessa cumprida. a espera saciada. entre nós. apenas o que deixamos florir. onde regamos o que os dias plantam. cúmplices. pelas nossas mãos.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

espera

na mesa. o lugar na espera. e o vazio adorna-se no sonho de acontecer. agradado aos teus gestos. que já sabe de cor. uma ladainha que lhe enche os silêncios entornados na borda do regaço que te anseia o corpo. e tu tardas. mas sempre vens.