domingo, 31 de janeiro de 2010

Ao cair da tarde


É ao cair da tarde que cais em mim.
Desamordaçam-se, então, as palavras que tenho para te dizer. Não são palavras de passado que tenho para me ouvires. São palavras frescas das madrugadas, por despontar, em que me vejo sem a tua presença.

Hoje queria ter-te trazido aqui, junto a este mar. Olhá-lho-íamos os dois e deixaríamos as palavras correr ao som do marulhar.
Tenho decisões importantes a tomar. Sabes disso. Sente-lo na inquietude da minha voz. Não me perguntas nada. Como sempre. Deixas-me a mim a vontade de to dizer. Sempre que o queira, mesmo quando não podes estar.

Temos qualquer coisa que ninguém pode explicar. Esta sintonia que a tua ida de mim provocou.
Foste-te no último Natal que jamais tive.
Reencontrar-te-ei um dia, quando tu à cabeceira da mesa num sorriso me estendas o prato que nunca mais voltou a ter o mesmo gosto.
E agora voltas só para mim, desta forma.

Sinto-o assim. Sempre que me apetece de novo dançar com os meus pés nos teus.
E ninguém sabe de nós. De tanta cumplicidade!


Sim, eu sei. Estarás comigo seja qual for a decisão que tome. Sempre o fizeste.
Às vezes gostava que falasses comigo também. Que me apontasses o caminho ou que me desses um sinal. Pergunto-me se sou eu que não estou atenta.

Sabe-me bem quando cais em mim ao cair da tarde. Embalas-me as noites dando-me o descanso para o rebuliço dos dias.

Ouves-me para além do marulhar?

sábado, 30 de janeiro de 2010

Agora


Agora que já não te tenho aqui, procuro fazer-te na minha memória. É curioso como os teus traços apesar do tempo aparecem tão nítidos. Como ainda te sei ver de mãos nos bolsos a deambular.
Apesar de primeiro me apareceres com um sorriso leve, logo te vejo triste e longe. Como te vi da última vez. E não sabia que dizer-te ou fazer-te.
Hoje percebo a tua tristeza pelas conversas que mais tarde tive. Quando se me desvendou mais de ti. E mesmo podendo entristecer-me não o fez. Solidarizei-me na tristeza que tantas vezes me vinha à cabeça e percebi também porque te foste distanciando. Parecendo estranho ficaste então mais junto a mim. E eu a ti.
Visitaste-me vezes sem conta durante noites em anos a fio. Sempre igual e cada vez mais próximo. Sentia a tua presença e quase podia falar contigo. As coisas que eu te queria ter dito! As coisas que queria ter ouvido de ti!
Agora falo-te sem receios mesmo que só me oiças porque aprendi que devo falar do que vai dentro de mim para me entender melhor. Não preciso de mais ninguém.Sei que só tu me entenderás. E de onde quer que estejas me ajudarás a percorrer o meu caminho.
Sei porque te sinto cada vez mais presente. Ainda que ausente.