terça-feira, 30 de julho de 2013

ainda é cedo



ainda é cedo. e em ti respiram as tardes amarguradas de esperas. desencontros onde te prendes. mirrado de toda a seiva que outrora te corria nessa vontade selvagem. de te fazeres onde nada se sabia. e tudo desbravavas.
(há urnas alinhadas nestas ruas onde jazem os vivos. despidos de toda a esperança. no ar a despedida faz-se de silêncios. ao longe a gargalhada dos que loucos, restam. as flores já não murcham. mortas que são. o tempo acabou.)
pudera eu dizer-te que ainda é cedo!

nomes


põe os pés no vagar das linhas. escolhe a cor se lhes souberes o nome. há uma razão na superfície das palavras que sopra a voz com que as dizes. e a ternura cresce se nela está semeada. ou a raiva, ou o medo. até a fundura onde cais se te atreves a pronunciá-la. então talvez seja melhor esconderes-te na surdez dos nomes e caminhares na viagem onde todos os nomes são incógnitas personagens. e na armadilha que um dia despoletas só os outros descobrem que te foste. nem tu deste conta de nada. de ti ficou este rasto de cores. sem nome. que não quiseste saber.

cedo


acordaram surpresas nos teus olhos. e o espanto alvoraçado
no meu peito.
só os meus dedos nos teus falaram maravilhas.
em toques insuspeitos
éramos ainda cedo. e tardava já.

mirava-nos um céu arregalado de cores.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

promessas


um arco iris de promessas e ninguem. o pó armazenado em catacumbas. contar-se-á a história decifrada no cinzento onde se encostou o olhar novo. inventada de nada saber. não haverá gente a quem a verdade saiba como tal por tão irreal parecer. os livros de cinzas feitos, construirão de novo o mundo antigo e as promessas serão como sempre foram. chuva que o chão come antes de matar a sede a quem a tem.

vivo ou não


deixar de ser sentada. de pousar o corpo ali na espera. e no colo embalar o acontecer embrulhado. que outros por nós fizeram e ali deixaram. ao abandono. de quem nada mais faz que recolher os restos. nas mãos vazias estendidas que os olhos toldados enegrecem na pintura dúbia da vida que se julga ter. porque mortos estamos.
e ali ao lado as rodas de ser gente no pedalar de ser mais à frente de quem não se lembra de nós quando em si se faz. e ser veloz nas pernas que não tocam o chão, audazes a pensarem voar na altura dum meio tostão. negro, da cor do trambolhão que se dá. se houver ilusão...

e entre tudo e nada a fasquia de quem se mete à estrada. vivo ou não.

os passos



que levam as pernas a prender-lhe o passo para as amarrar a este trilho se os braços pedem alturas antes de pender no desespero de nada poder? este cansaço amarrado a pedir alivio e mesmo assim, desmedido calado, abotoado na pele, sobe onde pode e faz-se pequeno onde silente abraça alturas e solta o voo das mãos pedintes. feitas asas. e se deixa cair. no fim de todos os dias.

sábado, 27 de julho de 2013

pecados



pecados. a cada um os seus. no peso de os carregar. a mim, leves me sejam que de mim, não são. tanto que já carrego e não me pertence ainda que me sue o corpo na árdua tarefa de amealhar. para nada ter. ma barriga colada aos ossos. doridos de tanto acartar. e tudo aqui ficar. pecado meu. que a ninguém, nada poiso nas mãos.

a cada um os seus, pois então.

os nomes

e os nomes ficam gravados. em memórias que o tempo guarda. mas o coração arrefece na ventania dos dias. mais ou menos devagar. mais ou menos depressa.

somos ilha


esquecemos a existência para lá da areia que nos cerca e somos ilha. o mar é o continente que se afunda e nós com ele. de respiração contida. aqui por momentos estamos vivos. até o tempo recomeçar.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

cair



cair. do ramo seco, deixar a folha livre. no ultimo voo. a seu tempo. depois de tudo. já o menino arrumou o pião e no saco cheio, os berlindes contam as vitórias. na corda enrolada estão os saltos feitos para o alto dum céu que já se estrelou. todos os dias foram cheios de quanto houve. fica só a memória na raiz do que se foi. na primavera que vier. ave à mão que apara o voo. salve o chão que lhe dá guarida.

este falar



ah a quentura dum abraço. mesmo que desta brisa seja. e saber-me viva ainda. num novo dia. onde estes braços com a força que lhes deixo pintam agora o alvoroço da voz que não se me cala dentro. seja a cor desta vontade a fazer caminho pelas ruas onde pincelo de nova cal a morada de todas as palavras que agora querem ao ar morar. porque é de todos este falar.

num ápice

num ápice a vida. a dor. o amanhã truncado. queixa-te agora da mão vazia e dos cinco dedos abertos em todas as direções. há caminhos ainda no abrir dos olhos e no alvor dos dedos o sentido das coisas. daqui a pouco, em menos de nada. o parentesis inevitável de tudo se acabar.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

outro rei

agora mesmo. na dor rasgada do baixo ventre o grito espantado desta aurora. nove meses contados nos magros dias. depositados na fria banca deste futuro tardado. que os dias melhores morreram de esperas calcinada. em esperanças esguias que o chão comeu. onde a fome cresce e nenhum fruto abunda. só esta barriga, agora vazia. a cravar gente aflita onde as promessas são o pão que o diabo amassou. sem fermento. azedas. infecundas.
caminhos tortos que se esquecem de nós. no brilho fugaz de reis menores.

terça-feira, 23 de julho de 2013

queres de meu o que sou


queres de meu o que sou. e não tens.
não caibo eu onde tu me queres. amarrotado de tanto me ajeitares. sou de outras viagens feito. e noutras me costuro nos vagares de alinhavos por estes dedos na cozedura dos dias.
se me queres os bordados, não me roubes as linhas. ficar-te-á o pano branco na crueza do desenho parido a meio atravessado nas mãos. e o crime denunciado. das tuas mãos cairão retalhos. que não reconstruirás. jamais.

(há caminhos onde os teus passos se fazem no jeito de seres igual ao bater agitado do teu querer. alojado em cantos a que chamas teus. casa de chave guardada em lugares de segredo de que guardas memória. só tua. fá-los)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

olhares extasiados


há olhares extasiados na antevéspera de suspensões onde se quedam estas mãos ávidas de tudo querer. um bolso vazio de nada ter mesmo depois de todas as horas fartas de cansaços e pilhas de trocos em gavetas, como tesouros na mira de um quase nada alcançar. e basta o pão e até a sede mitigada.
sobra um brilho nos olhos pronto a embaciar-se. é um estilhaçar de futuros que teima em morrer ainda antes de nascer.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

da minha mão



da minha mão
terás a volta de quanto nela
entregares. inteiro.
e nada esquecerei.

mas sossega
se temes que ta estenda
na procura
do que me possas dar,
porque nada
te pedirei.

quedo-me
onde nunca
me ausentei. embora
me deixasse por um tempo
viajar.
na promessa que cresce
quando as palavras
se amontoam nos lugares
abandonados aos silêncios.

é chegado o tempo
de as deixar pousar.
e eu, com elas.

nada tem de acontecer



no regaço estão as preces. nas mãos, os lugares. nos olhos as fontes.

e sabes bem onde estão as viagens marcadas. do que em mim se faz. quando daqui saio. ao encomtro do que somos. num tempo que talvez não venha a acontecer. morto já antes de começar.

no regaço estão as preces. nas mãos, os lugares. nos olhos as fontes.

descalça

descalça, a descobrir os segredos da noite. tudo ainda muito cinzento nos corredores desta casa onde se desenrolam os filmes que não me atrevo a revelar. pé ante pé com os cuidados de quem aprende a caminhar.

alheia



quero lá saber do que dizem por aí. há dentro de mim esta certeza de me saber alheia ao vento agreste que ao levar as folhas não arranca a raíz.

terça-feira, 9 de julho de 2013

não me digas


não me digas o que te sinto atravessado. são ainda as vésperas e eu aguardarei o tempo maduro de mas deitares na mesa onde me calas as vontades.  serão o fruto que a fome pede neste tempo em espera. palavras a desabrochar à flor da pele. pela tua boca.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

que nome?


que nome dás aos lugares onde ficas perdido de tanto teres e nada conseguires encontrar? onde afinas tu a lucidez que os teus olhos cansados, de procurar minúcias, deixa no brilho que te aparo na voz? tantas vezes me perco onde em batalha se erguem as palavras que dizem as coisas simples. talvez adormecidas nas bocas caladas dos mortos. (ouvirei então, ecos de fantasmas que vadiam entre os despojos dos dias que estão para começar? interlúdios de mim.) que nomes têm os lugares que vivem dentro de nós?

sábado, 6 de julho de 2013

se não as disser

se não as disser afogam-se, as palavras. acho mesmo que só vivo porque as pronuncio. e à tona delas me desenho espuma no limiar do que deixo calado.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

partir


partir. se preciso for. na vontade urgente de cedo chegar. este chão que deixo quando daqui saio leva a corda curta de aqui me trazer. umbigo materno num parto com dor.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

quero


quero que lhe escrevas lugares. palmo a palmo, no entremeio do espreguiçar que o alto dos teus braços alcança. e desenhes a estrela polar no avesso dos teus olhos. confio que nunca se perderão. assim lhe ponhas os olhos nas mãos. entrarás em todos os sítios. pelas memórias de os ter traçado.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

estranho tempo



já não me lembro destas vozes. como se um muro se tivesse interposto entre mim e o que foi dito. então. calando num silêncio caduco, ininteligivel, o dialeto do que fomos. estranho tempo este que nos esboroa as viagens mais intimas calcificando as entranhas onde se reescrevem as palavras dos dias que desconhecemos...

marinheiros que fomos


porque os sonhos não se fazem de olhos fechados e a esperança não se constrói em lugares sentados é tempo, de há muito, soltar as pestanas e descruzar as pernas. os caminhos são para se fazer inteiros. a cabeça deve rodar em todos os sentidos. há altura e chão em todos os largos e avenidas. e gente imensa neste mar que se agita na volta das luas. marinheiros que fomos saibamos dobrar este cabo das tormentas. uma vez e outra vez.

terça-feira, 2 de julho de 2013

toma estes braços



toma estes meus braços, restam inuteis se vazios ficarem quando sabem do quanto teus olhos se inundam em cegueiras de ninhos.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

malmequer



o meu corpo

sabe das tuas mãos.
em todos os lugares
lhes dá morada.
sem palavras
que se ajustem onde
o silêncio basta.

o arrepio é o chão
por onde se passeiam.
em todo o tempo
de aqui estares.

é no desfolhar dos dias
que os teus dedos tropeçam
entre um mal
e um bem querer
de aqui voltar.

conheces-me?


conheces-me? e ousas-me como se me fosses parte. nos teus pés atravanco mil dos meus tão velhos que não lhes sei os nomes de tão surdos se me terem feito. e no pó que se cola ao vazio que carregas onde não sabes de ti vou eu, despedaçado de quanto me levas. e por aqui ficou. farei os caminhos que os meus sonhos traçaram. quem sabe, seja assim que o destino se cumpra. e afinal os interregnos se façam de viagens unidas por cumplicidades que só o universo entende. e tu também. e afinal nós sempre nos conhecemos e só agora o percebemos.

vem daí


vem daí, de cara despida. atreve-te ao sopapo que a aragem te traz. à golfada sem dó que te atravessa a pele. e encosta-te a mim. sou irmã deste tempo. que não tem para onde ir. caminha na liberdade de se fazer.
vem daí.