de repente o meu filho estende-me uma agulha enfiada. sabe que os meus
olhos precisam de braços compridos para pôr linhas em buracos tão
pequenos. mãe, coze-me estes rasgões nas calças. e vejo buracos que
precisam de cuidadas cerziduras. como as antigas. a príncipio recuso.
depois enfeitiço-me pelo bordado. e teço as linhas que faltam
substituindo as puídas pelo uso. e páro no sossego que me leva aos
tempos em que ainda menina aprendia os primeiros pontos. como quem
aprende as primeiras letras.
desde
menina andei pelos lavores. era assim que se formavam as meninas no
nosso tempo. saía da primária e os tempos livres eram passados em casa
de gente prendada nos bordados. em casa tinha outros ofícios. a alguns
aprendi o jeito a outros tomei-lhe o gosto. ainda outros ficaram nas
esquinas das memórias que para meu espanto acordam quando lhes retomo os
caminhos. há quem diga que os genes têm baus ancorados com chaves que
de vez em quando podemos abrir. eu tive essa sorte com o baú que minha
mãe mesmo longe me deixou. uma mulher que fazia magia com as mãos. não
lhe chego nem a um terço de altura! mas a semente tem aqui um lugar.
domingo, 12 de junho de 2016
vontade
o caminho faz-se de vontade. ainda que o horizonte mantenha a distância. ainda que o escuro sobre e a fome da luz nos acompanhe. sedentos. o
caminho dará a água que os lábios pedem.
haja vontade.
haja vontade.
esquecido
esquecido. de mim. pelos outros. sou nada. se nem nome tenho. já não
falam de mim os lábios onde a minha sede morou. secos estão os rios onde
me fiz raiz.
sou exilado desse país onde habitam as memórias. e feneço.
sou exilado desse país onde habitam as memórias. e feneço.
quarta-feira, 1 de junho de 2016
estas coisas
são estas as coisas que me fazem feliz. assim despidas de tudo o que as
atravanca. e no entanto cubro-me. e no entanto encho-me de desejos. e
anseio sempre outras coisas.
quando só estas. nuas e simples. me trazem toda a felicidade.
quando só estas. nuas e simples. me trazem toda a felicidade.
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