domingo, 31 de março de 2013

prisões


prisões. onde a noite dorme ausente dos relentos. e o cansaço se enche de vazios. onde os pesadelos gritam. a antecipar manhãs quebradas na varanda de olhares que já não acreditam em promessas. e nadam em mares bravios, onde se afogam todas as esperanças.

sábado, 30 de março de 2013

que coisa guardarei?


que coisas guardarei, depois de tudo? que me restará para além do que achar já cumprido. sem nada mais adiantar. se tal puder acontecer. que mãos, tamanhas, abarcarão esta imensidão a resvalar margens que não contenho já?
mais vale já despojar-me e abrir asas na leveza de nada ter nesta pele que me cobre e se inventa a cada dia.

sexta-feira, 29 de março de 2013

não basta um copo de água


um fio antigo pegava-se ao corpo como às janelas. e às paredes por onde teimava em escorrer. e desenhar rios. pequenos. a contorcerem-se por entre cicatrizes antigas.
e bastava abrir janelas e soprar as nuvens onde se esconde o sol cansado para fazer desta pele o deserto cálido onde a miragem se estende para lá da vontade.

um nada fazer, acotovelava-se entre palavras gastas.
(não basta um copo com água para matar a sede. é preciso bebê-lo)

até quando


até quando me soprarão as marés que esta chuva arrasta num descabido mar onde me afundo. para longe de quanto quis. aqui na firmeza deste chão. que agora resvala. e me deixa despida dos sonhos com que me enfeitei.
até quando?

quarta-feira, 27 de março de 2013

para onde vou


 perguntas para onde vou quando só te posso responder que é na viagem que me demoro e deixo os meus passos escolherem os caminhos por onde me faço. e devolvo. porque sempre fico onde caminho, mesmo que nas mãos vazias leve tudo o que o coração abarcar. e que parar seja depois de nada mais ter para deixar e  de nos meus olhos nada mais caber.é para aí que vou.

o beijo


tinha esperado tempo demais. e o beijo já estava entregue em todas as palavras suadas nas palmas das mãos. que tremiam a distância da pele. cada vez mais perto. e afogar-se no tumulto da vontade ali desperta era o abismo. a vertigem. e a certeza de nada deixar por dizer. calando.

nuvem


ao peito, um colar. tecido pelos dedos que as manhãs despertam ainda dormentes. na voz rouca que o orvalho limpa em gargarejos a despir noites sufocadas na pressa de acordar. veste-se onde se deita na miragem de nunca mais lá voltar. não fosse ela nuvem e o seu berço, o mar.

terça-feira, 26 de março de 2013

são tortos os dias


são tortos os dias, esguios. e caem-nos por entre os dedos em aflições. no curto espaço que lhe temos, sabor a(mar)go que não azedo. porque dele nada fica. porque de restos se vive. nesta migalha que mal vimos na má vista que já temos. tão usada que já foi por tão pouco que nos deram. e ao limpar a cara mostramos os rios. tão secos, tão bravos, que descobrem o nu desta travessia de onde tão pouco levamos.
são as noites que quero, já. mansas. caladas. onde não acorde mais. as histórias  estão na pele. desabitada. falam pelos teus dedos até que esqueças.

segunda-feira, 25 de março de 2013

assim te bastar


onde as mãos inquietas sossegam o veludo da pele. apertado na ânsia de respirar. a vontade suspensa a calar-se entre mil botões que caem redondos aos pés de te querer. entre um e outro a singela esperança de assim, te bastar.

domingo, 24 de março de 2013

o fim do amor


às vezes é preciso fechar o coração no abraço das mãos e segredar-lhe um adeus. deixá-lo de olhos fechados no embalo dos passos que damos sem apertos ou gritos a que fazemos ouvidos moucos. e aos poucos sermos apenas nós. leves de todas as agonias.

à noite


à noite, tudo brilha mais. e quando falas, são mais claras as tuas palavras. como se precisassem do silêncio que o cansaço traz. pondo estrelas no firmamento da tua boca  que desenham constelações que só eu conheço. e onde viajo sem perder o lugar onde pertenço.

descompasso


o tempo enfeitou-se como pode. e a espera ajeitou-se entre as ruas molhadas no fresco das águas paridas da brancura que as nuvens vestiram. como se festa fosse. e o meu coração gemia no descompasso de te não ver. ainda. havia um relógio. mudo. que não dizia as horas de acontecer. e eu sabia as horas de já estar. nessa arritmia fugiam-me os braços, pesados para onde te queria. ali mesmo. naquele chão.
e quando tudo se fez era já tarde. por tão cedo te querer.

sábado, 23 de março de 2013

os beirais


olhar de frente a luz, mesmo quando ela se vai. e se desfaz nos olhos, escancarada. saber da ultima vez, no parapeito do tempo. e o próximo passo não caber onde se quer. para lá de onde tu sabes, há promessas que não pedes e te caem nas mãos. pesadas de despedidas. e o teu corpo acostumado dói na batente onde se quebra a esquina que não havia. troveja e não se prevêem andorinhas de volta ao ninho. faltam-lhe memórias de cheiros e sobram penas antigas.
é a chuva a cair que adormece os beirais à beira dos pesadelos.

a sede de mar


na boca, a sede do mar. a altura da onda no sonho de alcançar. o longe que agora fica para além da linha onde acaba o meu olhar.
e nos braços a força faminta de navegar.

quinta-feira, 21 de março de 2013

não me peças nada hoje.


não me peças nada hoje.
entreguei todas as palavras que sufocavam no silêncio onde se fecharam. num suícidio lento. onde as mãos inúteis se refugiaram em despedidas para lugares que desconheço. exiladas. de mim.
rendo-me a este corpo vazio. onde habita  toda a ausência e nada me pode faltar.
não me peças nada hoje.

quarta-feira, 20 de março de 2013

uma nova canção


caiu-me no colo a primavera, num prado verde onde dorme a esperança. que acordo. num sopro tépido onde as palavras nuas se deixam beijar. e o fruto, faz-se livre nos lábios que tecem uma nova canção.

terça-feira, 19 de março de 2013

o sinal


a ultima coisa que viu não foi  sinal de coisa nenhuma. atenta a tudo o que via. nada lhe dissera para onde ia. e o que fazia ali naquele intermeio onde as palavras não se faziam de coisa nenhuma. porque nada havia. um silêncio sibilante que atormentava os ouvidos e a fazia voltar onde não pedira. a um tempo de não olhar. de pedir que tudo passasse logo e nada fosse para além dum zumbido irritante a perder-se onde não se esforça em procurar.
um sinal, então, de que nada havia a fazer. ou a dizer. fechar os olhos e deixar-se ir. sem qualquer tipo de sinal.

segunda-feira, 18 de março de 2013

marinheiro


que lhe está no sangue o marinheirar. partir no cedo das ondas ainda deslumbradas do luzir que lhe conta as histórias doutros mares. estrelas que um dia partiram em barcos de não voltar. e cruzam-lhe os olhos sedentos na fome de viajar.

veste-lhe o corpo, um mapa onde se cobre de mar. esperanças e desalentos temperados no sal do seu olhar.

sábado, 16 de março de 2013

as palavras


fe li na men te reclinou-se e nada disse. afinal todas as palavras estavam já ditas. não havia boca, agora, calada que não as tivesse pensado. e tivesse nelas banhado a língua. nesse lago parado a olhar um céu pasmado no silêncio bafiento das coisas mortas.

mas,
há sempre um terceiro dia, uma terceira vez, um número mágico, que seja o três.

e na secura desamarrada de tanto ter e nada dizer, solta-se o eco da voz que a palavra fala. e faz-se o verbo na boca das mãos.

as palavras, são para se fazerem.

sexta-feira, 15 de março de 2013

não basta


não basta o céu ser azul nem o sol barrar-te o corpo do calor que te faltava no frio que te vestiu neste tempo bravio que te encheu as memórias e te fez perder no longe de dias assim. não basta o riso dos miúdos nas praças, onde as folhas mortas encontraram abrigo e agora voam nas asas improváveis de aviões soprados no alento de braços pequenos. não basta acordar a esta luz que te desabotoa os olhos pregados na fúria dos ventos que daqui te levaram. agora já não pertences onde estás. e tudo começa de novo.

quarta-feira, 13 de março de 2013

hoje é o tempo

ontem, ficava atrás das costas, num sítio de monstros e de medos com o cheiro das coisas por descobrir. e pela frente o mistério que os grandes guardavam nos braços enormes e no colo onde as feridas todas eram saradas no mel dos beijos. e cozinhávamos aventuras no pólen dos dias que floriram tarde na vontade de guerrear. hoje é o tempo de espalhar a primavera que borda as nossas mãos!

segunda-feira, 11 de março de 2013

chega-te aqui


 chega-te aqui. medra-te o medo com a fome e com nada contas para além do que te tiram. doem-te os gestos que te sabiam a casa. têem o gosto imprevisto dum preço que já não podes pagar. daquelas mãos por onde pendiam ternuras, descem cansaços que te moem a pele e alagam os olhos em maresias inúteis.
chega-te aqui. e já nem sabes para quê. tocar-lhe é sentir a morte e tu ainda não sabes despedir-te.

quarta-feira, 6 de março de 2013

há nos silêncios


há nos silêncios, campos em pousio onde as sementeiras se adiam no preparo da terra fecunda. barrigas prenhes onde as palavras crescem e a qualquer hora, se fazem  o fruto da espera. umas tardias, outras no cedo precipitadas e as que morrem caladas.

espreito no bulício das tardes, o desepero das vozes cansadas de se ouvirem. e de nada dizerem. já que nada para além delas nasce.

terça-feira, 5 de março de 2013

da minha mãe


amanhã? amanhã é uma palavra que dorme na barriga que se pendura nos olhos mais tristes da minha mãe. o sítio onde procurava as estrelas no frio da noite e agora a vejo afundar-se. na água morna, mas salgada como o mar. de meter medo. e as canções que ouço, embalam monstros que saíram dos sonhos para se aninharem por aí. é preciso apanhá-los para me ver no riso esquecido. da minha mãe.

um dia


um dia, haverá razões para, de pé, gritar o amor que dança neste coração pequeno. onde os olhos desapertam as manhãs envergonhadas do presente rasgado de todas as alegrias prometidas