terça-feira, 22 de outubro de 2013

que sei eu de barcos?


que sei eu de barcos se nem este mar de mim já sabe? bravos os marinheiros que enfrentaram monstros inventados no pouco saber que agora se acoitam nas praias onde ondas e gente se deixa morrer.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

cuida


cuida dos meus pássaros onde o sol não brilha. guarda-lhes o voo no pousio. amam os beirais dos teus olhos e lembram a que sabem os teus lábios. de quando abrem asas no céu da tua boca.

domingo, 20 de outubro de 2013

penas



no corpo, as penas de ser ausente.
cravadas.
um golpe fundo na raíz de ser gente
nesta terra desacreditada

e assim em todas as manhãs
os meus olhos doridos
me pariram nas mãos

estes dias que renego.

sábado, 19 de outubro de 2013

não saber que dizer


não saber que dizer. e a gastura das palavras a moer-se por entre a gente. arredia de sentir e ver. tecer agora neste manto de silêncio onde agonizam os versos que semeei. ainda inocentes, ainda puros. a dedilhar maravilhas que os sonhos sabiam construir. no antes de tudo acontecer. desmoronado aos nossos olhos. empedernidos de sal. barricados na foz de todos os mares. onde os meus rios saciavam a sede da tua boca. moradia de todos os desertos.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

como vimos fazer

fazemos como vimos fazer. e de nada mais precisamos para legitimar os gestos. perdendo-se de significado pelos tempos as coisas e as palavras abandonadas a rotinas como fatos puídos que costuramos no corpo ajeitadoa ao uso dos dias que nos sobram. se ainda restam. e se alguém tarda ou desajeitadamente julga por sua cabeça lançar o gesto onde não se tinha estreado. o espanto brilha na ponta do dedo. espetado em quem se atreve por tal fazer. (mesmo que na nossa vontade se antecipe em formigueiro esta audácia.) agora encolhida no rubor de se ver exposta. por não ser esperada. e queda-se assim o que se espera. a força maior de ser diferente. a ousadia de se afrontar e ultrapassar quem já não pensa o gesto certo de tudo saber. mesmo que de nada se saiba. que os porquês são coisa de gente pouca atenta. aos que tudo dizem de certezas feitas. e assim caminhamos em ordeira fila. entoando a mesma ladainha. prontos a adomecer em nós essa estranha certeza de pensar que há lugares onde os gestos ainda são virgens e as palavras constroem outras historias que não estas.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

os jornais


os jornais cobrem-se dos negros caracteres. pausados do silêncio onde se me embacia a voz. trancada de nada saber dizer quando tudo me tiram depois de quanto me prometeram. aqueles a quem minha casa confiei migraram para sítios que não conheço, dexando-me a nudez destas paredes. antigas a desfazer-se no pó que me sobra a cobrir a pele. e dizem-me ainda que lhes devo tudo. mandam recados por outros como eu. de alturas onde não chego, por já estar morto ainda vivo. enterrado onde a mnha vida foi amputada. por decreto publicado em todos os jornais. em negros caracteres.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

surdez

por vezes num qualquer lugar, a surdez. longe da transparência que desoculta a voz, a cortina tecida pela cegueira ergue muros onde o desentendimento mora. na palavra feita de gestos agrestes. o medo de não se conhecer. tantas vezes.