sexta-feira, 31 de agosto de 2012
é ternura
é ternura
que te devo,
na vontade
de tudo te entregar,
quando me inundas
e me faço foz
dos teus caminhos, ao chegares.
e
cobrir-te o cansaço do corpo
da árdua luz
quebrada entre sombras
que amorteço
no abraço
prometido.
numa carícia, despertar futuros
esquecidos de
amanhã.
mais à frente
no caminho, o passo,
ajustar-se-à como peça de puzzle
mal ajustada, a compor-se.
e de longe tudo
fará sentido,
o lugar das primaveras
é ao lado de quem
morre.
terra minha
são brancas as manhãs onde pouso os olhos
páginas de segredos que a noite adormeceu
soa-me nos dedos a névoa que emudece
a ternura de um tempo de que nunca parti
não falam de saudade as letras que se juntam
nesta conversa a dois, feita entre tempos,
nos arcos onde ecoa a tua voz, são meus passos
que te trazem ao meu peito, num canto, nosso.
eterno e sempre novo. terra minha!
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
interregno
que te podia eu dizer, depois de todas
as luas,
deitadas num céu perdido
entre as palavras enredadas
em conversas sem sono,
na luz da manhã
estremunhada, quando o teu cheiro
me desperta os dias
que deixei adormecer?
vivo neste interregno, em que me
visito, porta adentro,
pelos meus próprios passos.
e onde minhas mãos,
ocupadas,
tacteiam as luzes
por acender.
um dia acordarei o sol.
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
a tua pele
(fotografia tirada a vídeo no youtube)
é a tua pele, que no silêncio,
de veludo
me veste, entre a viagem
dos dias claros
que se vão,
apagando os sinais de luz.
caminhos
de abraços tatuados
na sofreguidão de
te ver
onde me fazes falta.
neste espaço onde
o frio se abriga em arrepios
que só a ponta dos teus dedos
reconhece
e o toque dos teus lábios
me diz, inteira.
terça-feira, 28 de agosto de 2012
amanhã
prender-te, livre, no entremeio
deste abraço
que desfaço,
para de asas te vestir,
filho meu.
neste ventre semeado
pelo sonho de futuros
roubados
a cada dia.
dar-te a chave e o segredo
das manhãs a descoberto
nesta terra,
que te entrego,
devassada por demónios
de olhos vidrados
sem luz.
é a vontade que trago, o fruto
amadurecido,
a raiz que desenterro
e lanço no teu caminho.
faço-te de sonho, a esperança
e construo outro dia,
filho meu.
amanhã!
na verdade
na verdade,
sei de todos os caminhos
na certeza de me levarem
onde eu lhes puser os pés
e a vontade.
na verdade,
sei de todas as ilusões,
enganos e arremedos
de futuros amanhados,
na promessa
dos que me beijam os
passos,
na cegueira do olhar.
na verdade,
se me perco em todos eles,
é porque deles
me faço, dos pedaços
que abraço
num caminho que
é só meu.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
lugares teus
estão guardados os risos
e as conversas soltas
no alto
da cabeça tonta
de ser pequenina.
um tempo onde habitam
agora as teias, o pó
e os restos,
de paredes cheias das
marcas de gente
que também já fui.
procuro-te os olhos,
estendo-te as mãos e no lugar
onde te sabia
confirmo o vazio
de te não ter
mais.
domingo, 26 de agosto de 2012
em segredo
apenas isto.
um lugar onde os silêncios
inundam
as tuas mãos. neste corpo,
onde todas as palavras
são luz
na alvorada da ternura
que escorre dos teus
dedos
em segredo.
sábado, 25 de agosto de 2012
instantes
um mar de distancia, no
tempo para vir
e a raiz plantada no que me deixou.
entre
as horas que abraçam
o momento
que sei,
a mala em viagem, para onde
me quero
e nunca,
estou.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
vem
foto de António Fernades
vem,
e eu fui. pelos teus olhos,
nos meus de espanto.
o sonho a fazer-se de cores e cheiros,
antes arrumados
na prateleira dos desejos.
desembrulhar os véus transparentes,
lançá-los ao ganges
e colher na água dos deuses todas as graças.
tocar os sorrisos tristes, os rostos cansados,
fazê-los da cor que incendeia
os mercados.
e espiar a paz.
em nada ter.
nos lugares de memórias distantes
e dentro de cada um.
num rio que a todos banha.
por momentos ser-se o avesso
às claras de toda a gente.
e a alma de um povo que se despe
aos olhos de quem sente.
uma terra a gemer cansaços,
a cantar de alegria, a carpir tristeza,
em oração.
uma terra viva. a pulsar
em cada olhar.
há uma embriaguez de cheiros
a explodir nas cores
que emolduram as histórias
ainda por contar.
e o tempo a atropelar-se na pressa
de se findar.
ainda a viagem não acabou
e a saudade de voltar já fez promessa.
porque se nas mãos se escrevem
gestos,
é nos olhos que se gravam as memórias.
volta, dizes-me,
voltarei.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
a lonjura
de que me servem os dias, semeados
um a um
em regos lavrados
nestes dedos dormentes
famintos de
ti?
nesta carne dorida de ausências
vive a lonjura que
se perde em lugares
sem fim.
perdido
se me desvendo
a teus olhos
como suporto eu, o peso
da crua luz
na tenra inocência
que não deixei
acordar?
sou ainda o menino
que procuras
nas trevas das memórias
perdidas
e outra coisa
não sei ser.
perdi-me
onde me encontrei.
dentro de ti.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
espasmos
filme de: Ashley Rae Pearsall
dançado por: Megan E. Martinez
cinematografia adicional. John Mattiuzzi
edição adicional. Stephanie Andreou
musica de: Valtteri Kujala
espasmos.
da palavra ferida.
deitada no ventre inchado
onde o tempo
guardou
de intempéries
e
luz,
o voo da lança
em que se
tornou.
terça-feira, 21 de agosto de 2012
inverno
enfileiram-se demoras neste regaço
onde as esperanças
abortaram todas as esperas.
ainda não chegaste
e nas tuas mãos carregas já
as despedidas.
no caminho que dá para
a minha casa
todas as luzes se apagam
no luto de rios
que não param
de correr
sem um mar para os
embalar.
é primavera ainda. e o inverno sopra-me
a noite.
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
somos
é nas as horas silentes que adormecem no
meu colo, que me chega o alvoroço
de pássaros, em esvoaçar inquieto,
na madrugada dos teus
olhos,
sonho então, imperfeitos voos
que rasam as águas, onde os meus rios nascem.
quase morro nas asas de que te vestes.
e mergulho inteira,
para respirar quem sou.
somos a água e o ar. e só a brisa nos sabe.
beijar.
domingo, 19 de agosto de 2012
lado a lado
deitámo-nos lado a lado.
e os olhos a sondar silêncios
na brancura dum tecto que sufocava
a palavra acesa
na mão que estendias
nas minhas pernas estiradas.
calei-ta. apertando-a na minha.
desprendeste os olhos
da lonjura
que se fazia em cima de nós.
e foi no rio dos meus
que afundaste todas
as perguntas.
já não falávamos com as mesmas
palavras. e todos os gestos
eram mudos.
sábado, 18 de agosto de 2012
destinos
desenham-se mapas a prever
destinos
cicatrizes dum tempo
cravadas na pele dura
de castelos erguidos
nas histórias que inventámos.
caiu por terra o herói.
onde se desbravou o medo e se fala
agora, a palavra de asa aberta.
(até ao dia, do fogo se apagar, na
boca dos dragões.
que dizem, não existir).
será do pintor, a madrugada
de onde brotarão todas as águas.
e um tempo despido e limpo, será entregue
aos que sonham.
amo
amo este espaço
que
abraço vazio,
onde me entrego.
a cadeira que espera,
o silêncio que cai.
amo as horas tardias
na cama que inteira
em mim
se espreguiça.
amo
o ser fora de horas,
a irrequieta vontade
de não ser
ninguém
onde toda me sou.
sou desta terra parida
entre medos, de noites cobertas
de pesadelos.
foram meu berço,
meu esconde-esconde
meu colo, até.
amo esta rebeldia
de me condenar a exílios
de onde afinal
nunca parti.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
o ninho
crescia num ninho, a semente de luz.
pássaro inquieto, de asa rasgada
ao horizonte longo,
de madrugadas despertas
nos olhos de espanto, orvalhados
de maravilhas.
ingénuas, a despontar.
do manto destapado, abriu
o grito, no dia inocente
do que estava para vir. voou.
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
calaram-se as palavras
calaram-se as palavras. na aridez do tempo,
erguido entre o pousar dos dias,
na pele, onde um coração conta quantos sóis
fazem uma vida. de silêncios
habitada.
somos do agora
há pessoas que passam por nós deixando rastos inóspitos que não pertencem nem a amizades e muito menos a amores que devam perdurar. arrastam-se por memórias de créditos indevidos porque não lhes devemos espaço nenhum. a não ser o da ausência e da distância. e a esse não pertencemos. somos do agora. o tempo onde habita o presente que temos. dentro de nós.
terça-feira, 14 de agosto de 2012
um pano inacabado
nas tuas mãos, os pedaços que faltam tecer.
e o velho tear, a um canto, abandonado,
jura lembrar-se de todas os bordados que
fazem as travessias.
roçando a pele das manhãs
que te ferem os dedos descobertos
há um vento a assobiar-te os segredos
vindos dos dias que estão para chegar.
e um pano inacabado cobre-te os pés.
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
as dores
as dores são rios
a
transbordar.
lancinantes derrocadas
em margens
apertadas, no sufoco
dum peito
a definhar.
e um deserto
calado
cresce frio na foz
de cada olhar.
domingo, 12 de agosto de 2012
até sempre
não, ninguém mais a conhece para além dos 6 filhos que o seu ventre alimentou e deu ao mundo e poucos que a amaram a seu modo por tantos sítios onde a vida a fez a mulher que fui conhecendo por intervalos. porque desígnios estranhos me negaram o tempo inteiro.
sei-lhe do nome, em louvores por ter ensinado as letras. de lugares onde punha as mãos, de bordar vestidos, na terra lavrada ou a levantar muros sem um queixume. e o pão na mesa, contado. mas a fome não se ouvia. se-lhe das histórias, da vida contada e do terço nas mãos e a reza em coro no silêncio da noite.
hoje, fazia anos, estaríamos todos à volta da mesa, duma mesa qualquer. e voltavam as histórias e os risos. (gostava de a ouvir rir) depois dir-nos-ia o que fazer com a cadeira e o banco, os lençois e as colheres, quando morresse. queria-nos bem.
era uma mulher forte e grande.capaz de amar, muito. e de perdoar também. tinha um orgulho enorme nos filhos. uma mulher com coração tão grande que não cabia dentro dela. por isso a levou muito cedo. por ser tão grande.
hoje cada um de nós almoçou em sua casa e não lhe cantámos os parabéns. mas agradecemos-lhe a vida que nos deu e ter feito parte de nós, pelo tempo que foi.
obrigada, mãe. gosto muito de ti, sabes? e no meu coração mais pequeno que o teu ainda estás e guardo-te,combinado?
até sempre.
não há solidão
não há solidão onde
não te faltam
os outros,
aqueles que ignoras ou
não sabes
de cor.
e no espaço em que lavras
os dias
há sementes a germinar
esquecimentos, onde
só tu floresces.
se te falta a memória do riso
a lágrima é o pão
que devoras
quando a fome te abraça
o peito.
e se porventura os sorrisos
te bordam os caminhos
tecidos
na brandura do tempo
encostas-lhe a pele
do teu corpo
e deixas-te acariciar.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
um banco
na minha aldeia, há paredes caiadas
nos tempos achados
em entremeios de terra lavrada
que descansam das mãos
feitas artistas em
murais de espanto,
na planície estendida na ombreira
dos meus olhos.
há portas, vestidas de céu
de que me tapo no aconchego
do tempo
que ora, ferve, ora treme.
janelas de molduras cor de mar,
cais de viagens
sem fim.
e em cada canto, um banco
onde todos os regressos
saciam os cansaços
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
não há poesia
não há poesia na noite que chega. na casa que espera o fim dos dias. no cansaço sem prazos que sobra no corpo. nem nos sonhos que negam presença em sonos ausentes.
em sorrisos que morrem na fonte dos lábios crescem amarguras onde o asfalto dos dias se estende. no vinco árido dum tempo que não se compadece de esperas. e se afunda no rosto que os meus olhos perdem.
fogem as paisagens que falam poesia pelas minhas mãos. e sei que em lugares distantes dos que sou, existem.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
a ti.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
soletro-te
pedaço a pedaço
soletro-te entre as linhas
descompostas
do tempo
em que saímos
derrotados.
no sussurro das palavras
há vertigem.
e tombam, uma a uma,
as que ignoras,
nestes lábios, onde navegam,
agora,
todos os silêncios
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
que será?
plantas agora de raízes nas mãos
nesse corpo dorido na ferida
que abriste no golpe
sem dó.
secas-lhe o ventre, comes-lhe
os sucos, que em labirintos
sufoca sem ar.
calcas, espezinhas
o que arrancas na pressa
da fome que matas
que será desta barriga mirrada
na ânsia
de bocas onde se fina um pulso
que não bate mais?
domingo, 5 de agosto de 2012
o nome das palavras
as palavras têm o cheiro dos livros
gastos
e o nome dos lugares onde moro
assim como tudo que em mim
habita
não fosse o mar na varanda
dos meus olhos
e escreveria serra a sonhar planície
com estes mesmos dedos,
na sede de dar nomes
a esta vontade que me nasce
na alvorada dos dias
e vai crescendo em desalinhadas
linhas
que se perdem já, em horizontes
antigos.
sábado, 4 de agosto de 2012
fim dos tempos
somem-se os dias,
assim
de onde os espreitas a cair,
no tempo da água
se deixar lamber pela língua
do sol que não te chega
a beijar.
já não se ouvem passos
a acender sobressaltos
e a ternura é feita
de nós
nas curvas dos dedos.
são meus olhos baços
ou o sol não se faz
luz?
ode pára a doce palavra
que me amacia as horas
no destempero
de tanto
abandono, neste canto
onde me deixo
finar?
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
teimavas
sabias de todas as demoras
nas curvas
derrotadas pelo peso
de longas esperas.
mas teimavas.
não havia dia que não se levantasse
em ti, a promessa de mais perto.
e desfalecias na dormência
de nada te chegar,
onde ficavas.
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
nasces-me
nasces-me
nos olhos das manhãs.
na embriaguez da noite
há restos antecipados de delírios
que teimam em
não acreditar.
e pousas-me nas pálpebras,
encomendando sonos
a apagar todas
as memórias que estão
para vir.
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
por hoje
há neste mar,
a água onde se guardam,
agora,
despidos os invernos,
as brincadeiras e os cansaços.
segredos que muitas lágrimas
temperaram e despertam,
hoje,
os risos para acordar
nas memórias.
está manso o meu mar,
dormem as ondas,
enroladas nas funduras.
longe dos medos que o vento
também decidiu calar.
por hoje.
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