quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Pode ser


pode ser num fim de tarde. num sítio qualquer. as coisas mais tristes. as mais alegres. todas em qualquer hora e sem aviso.

acontecem assim. (quantas vezes as sabemos já e adiamos julgando assim matá-las. que inocentes, somos.)

despediu-se e nem dei conta . diz que voltará um dia.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Meu corpo


‎"Meu corpo é um mar morto, onde já nada se afunda.
feito de lágrimas
em sal." dizes-me.

E minhas mãos de água morna, dissolvem-te os silêncios
argamassa
que há em ti.

O vento, meu amor,
carícia antiga,
abraçar-nos-á!

domingo, 28 de agosto de 2011

Despedida


Uma despedida doce, de colos e sorrisos temperados, com palavras a lembrar tempos que nunca serão passado.

sábado, 27 de agosto de 2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Na união

Minhas mãos peregrinas só sabem os caminhos do altar do teu corpo onde se celebra o nosso amor na união com as tuas.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Se me calar


Se o silêncio te desvendar segredos que ainda não despontaram nas minhas madrugadas, deixa-lhes amanhecer a voz, podem trazer ainda os sonhos inventados e fazerem de mim outra, que não sou!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Eu sei

... No entanto mesmo quando dizemos que afinal não temos histórias para contar essa é a nossa própria história. A história de imagens em atropelo numa sequência de que não temos o controle. Com flashes em que nos reencontramos ou identificamos porque parecemos nós, nos traços de memórias que ainda guardamos. Teimosamente.

Nas conversas triviais quando me perguntas que me contas, remeto-me ao silêncio envergonhado dos meus dias apagados em que não reconheço histórias que valha a pena contar e digo-te, nada de novo. E se todos os dias me confrontasses com tal pergunta, sentir-me-ia ainda mais sombria e inútil. Afinal sou apenas outra. Não faço história na história da vida que um dia contarão.

E eu sei, F., que por muitas histórias que cale, muitas histórias contarei só pelo facto de aqui estar.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A morte

A morte traz por vezes a calma na ponta dos dedos e a leveza que o vértice cansado dos nossos lábios há muito deixou de ter não dançando mais no rosto engelhado dos dias.
Ilusões de vidas para além das que temos: sonhos enfim de olhos abertos apesar de teimarem em fecharem-nos.
Quero as minhas mãos abertas e não cruzadas, para colher tanto que , sei, ainda tenho para colher!

domingo, 14 de agosto de 2011

Depois

Depois, sim. O fogo fez-se. E eu aninhei-me nos teus braços de tanta sede te ter. Só no mar, nesse que dentro de ti carregas, me acalmo agora.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Um pingo

Um pingo, dizia-me P um pingo pode definir aquilo que que eu acho que pode ser felicidade. Espera P, um pingo? Mas o que é um pingo e porque pode ser um pingo? Eu explico-te disse-me ele. Todos os dias bebo um de manhã e à noite. Neste mesmo café. Não pode ser noutro. Não sei porquê, não me sabe tão bem. Aqui, todos os pingos que bebo me sabem bem. Têm uma constância de sabor e qualidade que aprecio. Sei com o que conto. Fico sempre satisfeito.

Fiquei curiosa. Com o pingo e com o sabor da felicidade. Quis provar a felicidade. Perguntei-lhe se o podia fazer com ele. A dois devia ser ainda mais saboroso. Faltava-me saber o que era um pingo. Não era mulher do Norte e não tinha o acesso aos códigos linguísticos. Desvendada a receita da felicidade não me parecia difícil tomar o remédio. Era só beber café com leite em chávena pequena, aquilo a que chamamos na zona onde vivo, garoto. Pedimos em conjunto o pingo. Daquele café. Vi-o beber deliciado o seu. Com o constante e esperado sabor e qualidade. Experimentei o meu. Esperei ansiosa a minha dose de felicidade. Não a tive. Não consegui beber o pingo. Não gostei do sabor. Quase tive vergonha de rejeitar a minha dose de felicidade ou quebrar a constância, a linha sempre contínua e viva daquela coerente felicidade. P admirou-se e provou o meu pingo. Também não gostou. Podes devolver, trazem-te outro. Não, deixa, não faz mal. Fico assim. Fiquei a olhá-lo e pensei. Era assim que devia ser. Quando o que nos faz constantemente feliz num dado dia não nos faz, devolve-se, reclama-se e recebe-se de volta sem demoras aquilo a que temos direito. É, a felicidade devia ser como os pingos.

E a ideia da constância, agrada-me. Mas continuo a pensar cada vez mais que é nas pequenas coisas que somos felizes e inconstantemente!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Não esperes

Não esperes que deixe outras mãos substituírem as tuas no meu corpo. Não enquanto as souber de cor. Não enquanto lhes conhecer os traços e aquela tão tua peculiar forma de me acordares as vontades que nem eu sabia ainda que tinha. Seria um pandemónio de vozes a agitarem bandeiras e a colarem panfletos nestas paredes ainda cheias de ti.
Outras bocas na minha? Onde os teus lábios ainda agora me sabem numa memória redonda, num vaivém, onda tranquila, sabor a pasta de dentes e chiclete e a ti e a mim? Não o sonhes sequer.
Ah e as palavras. Ouvirei outras e tantas. De outros também. Ditas e escritas. Lê-las-ei. Ouvi-las-ei. A todas atentarei. Mas só às tuas darei guarida. Porque só elas me sabem decifrar.

Viajarei, meu amor, estaremos ausentes talvez. A vida passará por mim, por nós.
Tu só passarás se assim quiseres. Se os tempos forem curtos e as lembranças mornas, ficarás sempre comigo. Terás os códigos e as memórias do teu lado.

Se assim não for... serás talvez um dia o amor de alguém, mas não o meu.
E então, talvez eu deixe que outras mãos, outras bocas, outras palavras me levem para longe de ti!

Metade


Mostro metade de mim e sei-me inteiro.
E sou ainda o que não mostro.

Tantas vezes o que escondo!

Como


Se ainda agora te foste, como posso já sentir que não vivo?Como tudo é longe e o tempo imenso, quando não estás!

Sou outra quando te espero.
Quero ser a que te tem junto a si.

Lembro-me


Lembro-me de te abrir o peito que sem saber habitavas.
De te deixar entrar inteiro.
E nunca, nunca te ter fechado
ou impedido de partir. Porque amava a tua liberdade.

Onde sem asas,
voava!

Não há


Não há tempo que faça de ti coisa morta.
Não há morte que te leve de mim.

Sonho-te vida e faço de ti semente a germinar em mim.

Até onde o espaço de nós se fizer.

Um tempo maduro


Era um tempo maduro.
Colhia em ti os sonhos por mim plantados.
Guardava-os no celeiro do meu coração
para invernos de ausências.

Abro-lhes agora as portas para que se façam pólen no tempo que ainda tenro o vai acolher.
Seremos nós desabrochando por aí.

O silêncio


Esmaga-me quanto ouço.
O silêncio que se fez do que era o teu respirar.
Do sorriso para ti fica-me a vontade.

Alinhavado, desfaz-se
por não te ter.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Deitou abaixo os muros


Dum lado escondia todas as tristezas, as esperas e angustias. Todas as coisas que lhe faziam o coração enrugar-se, tornar-se pequenino sem saber das letras que compunham as palavras que se diziam em momentos assim.

(Lembrava-se bem de desenhar braços em corações vermelhos atravessados por setas que pingavam gotas de sangue e com letras gigantes escrever AMO-TE . Dobrar em quatro, depois em mais quatro, vincar muito bem e passar em segredo à miúda que lhe fazia tremer os joelhos e baixar os olhos... e depois correr e jogar à bola com os outros rapazes, com o coração aos saltos, como se nada fosse)

Do outro lado, era tudo bem mais difícil, apesar de serem bem menos as coisas que lá entravam e por menos tempo.
Sempre por menos tempo. Como se tivessem de viajar por outros caminhos e gentes. Tivessem de ser repartidas por terem tanto valor e serem tão especiais. Únicas.
Não eram precisas palavras. (As palavras estragam tudo.)
Bastavam os gestos sempre revividos, imagens soltas. E as mãos a abrir-se nos braços estendidos no coração que um menino inventou, numa carícia tranquila.
Sem perguntas, aceitar, agradecer. Um olhar, um pestanejar, um pôr do sol, a madrugada, um novo amor.

(Um orgasmo pode durar segundos, mas não deixa de ser um orgasmo. Êxtase. Cumulo do prazer.)

Decidiu ser feliz pela medida de todos os tempos, mesmo sem medida. Tempos de coração acelerado, mesmo com setas atravessadas. Que o tempo não importava. Importava era sentir.
Foi então que deitou abaixo os muros e juntou as partes. Chorou e riu.

Desenhou no coração uma boca a sorrir e das gotas de sangue fez lágrimas.
Os adultos têm destas manias!