quarta-feira, 17 de junho de 2015

meu amor

faremos muitos anos juntos, meu amor. e não os contaremos pelas rugas nem pelos cansaços. deixaremos isso ao cuidado do tempo alojado na pele. festejaremos cada alvorada somando o encontro dos nossos olhos.juntando as nossas mãos.

quarta-feira, 11 de março de 2015

não há

não há
milagre maior que a vida.
a que recebemos.
a que partilhamos.
a que se nos esvai pelos dedos.

não há
melhor armadilha para aprisionar a vida
que o amor.

ali sem escape, dura para sempre,
em quem seja.

segunda-feira, 2 de março de 2015

se disser

se disser que te amo
da mesma forma que os meus ouvidos
amam a música
entenderás o quanto em mim és melodia.
mesmo em dias que ausente me sejas.

as pausas são nas pautas o balanço
que o peito,
sem ar, precisa
para continuar. ao ritmo certo.

e também nos silêncios se ama.
em intervalo,a memória.

não basta

não basta
pronunciar os nomes.
é preciso
soletrar os gestos

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

o frio



dentro estavam-lhe as palavras todas. a germinar. mesmo que o frio crescesse sem destino. e sem dó. nos recantos mais isolados e desconhecidos das mãos. de todas as mãos. tão fundo era o seu modo de esfriar. como se vento fosse a arredar caminho. por entre as memórias. cinza brava. fogo extinto.
e as palavras cresciam. gélidas. a rebentar nos lábios. que os olhos, secos de miragens, eram desertos. longe de tudo.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

não me digas nada agora

não me digas nada agora. fá-lo só quando tiveres a certeza de nenhuma certeza teres. estaremos então certos de tudo.

faltou-me



faltou-me o beijo. e a mão. ao encontro da minha. vazia. amputada do teu corpo. adiado. e sobrou-me esta falta de te olhar. ainda que de olhos turvos pela noite que nos separou os gestos. mesmo no colar dos corpos. humedecidos.
faltou-me o beijo. e a mão. ao encontro deste vazio que agora guardo. para ti.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

aqui

e aqui é a soma de todos os lugares possíveis. esquina de desencontros. cruzamento onde os passos não se atrevem. e as esperas agonizam. em tonturas. antes da queda.. longe dos beirais deste colo. onde cresce o vazio.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

domingo

domingo. um dia antigo onde o descanso se encosta. por leis que o corpo espera an si o sa men te.
assim tu és. ainda que não precise que os homens decretem os dias. ou as horas. que em mim, as ânsias me pedem todos os instantes que em ti habitam.
nesse teu corpo a que chamo domingo. em qualquer momento.
e me encosto para sempre. em descanso.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

noites

gosto das noites quietas. longe de tudo. intervalos onde me deito. tranquila. e deixo que o escuro aconteça. apagando a pouco e pouco sons e luzes. como se surda e cega me pudesse ver e ouvir melhor. neste pousio. onde me deixo cair.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

ainda assim

nada é muito para quem se dá inteiro.
e a riqueza a sobrar-lhe nas mãos que de nada mais sabem além de repartir.
feita a colheita das dores. no regaço arrecadadas. não se façam elas semente em mão alheia. impiedosa.
ah, estes rios que sulcam o rosto dos dias. quantos de nós levam, assim sem aviso. e de tanto ter. nada valer.

nada é muito para quem se dá por inteiro. e ainda assim a vida a mingar.

domingo, 4 de janeiro de 2015

as palavras

às vezes as palavras, incomodam-nos. como aftas. espetando-se em cada canto da boca. e atropelam-se em cantos que não suspeitamos.no cheiro bafiento das memórias, onde as angústias se encostam. há fileiras descontroladas que não sabem da sua vez. nem da voz. lembram salas de espera em hospitais cheios onde os olhares vazios colhem a dor. que não sabem de onde vem. não sabem elas que de nada lhes vale o incómodo de se fazerem neste reboliço. a ingenuidade e a inocência é coisa antiga e todas as memórias fazem história em cada uma. ninguém saberá o nome da febre que as assalta nem o antídoto para tal incómodo. resta-nos dar-lhes abrigo. mesmo que nos doa. mais forte que a dor duma facada. que não as enxerta.