sábado, 26 de fevereiro de 2011

O tempo

Aprendi que quando se espera o tempo tem folhas grossas e pesadas que parecem impossíveis de desfolhar. Tudo parece longe e distante. Impossível.

Só tempo da felicidade é como o papel da Bíblia que a minha avó desfolhava cuidadosamente. Quase transparente. Ao mínimo descuido, soltavam-se as páginas, perdiam-se as palavras, ia-se o encanto.
Sempre lida em recato, longe do bulício de algum vento que lhe soprasse as folhas e lhe imprimisse a velocidade que a leveza de tal papel, com sonhos de voar, tinha.
Tão frágil!

Ah! Esventrar tal livro e fazer dele um oceano imenso, onde barcos, de papel feitos, vencessem as distâncias, pelo tempo das palavras que a pouco e pouco não seriam mais que seiva ... alimento para outros, mais tempos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Lágrimas


era uma lágrima que queria ver correr dos teus olhos. agora vidrados. antes que tos fechassem para sempre. o adeus que não pressentiste e de ti escondi.
agora tudo é inútil. as pequenas mentiras, as farsas, os jogos... tudo quanto era preciso, para levar de ti, a dor.

quando aqui chegaste, olhaste em volta, pousaste a televisão pequena numa mesa, a um canto e disseste com um sorriso nos lábios, finalmente instalado no meu quarto de hotel!
brincavas, brinquei também. e sabia tantas verdades, que de ti escondia.
nos lábios que a seguir beijaste, não sabes quantas palavras calei. todas em turbilhão no meu peito onde, tantas vezes, a tua cabeça poisou.

prepararam-te para entrares no bloco. segredaste-me ao ouvido um até já e, num sorriso dos teus, um ainda te amo.
voltaste como te vejo agora. um e dois dias, assim.
que coisas deixaste para me dizer?
porque não falámos nós de tudo?

(se me faz falta o teu sorriso? é das lágrimas, meu amor, é das lágrimas, de tas beijar e secar. de te apertar em meus braços e confortar. e dizer adeus, até já. é disso que tenho falta.)

antes que te levem de mim, digo-te um até logo no sitio do costume. tu sabes.
agora deixo-me chorar. as minhas lágrimas molham o teu rosto também. como se chorássemos os dois.

a ti já te fecharam os olhos.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Um tempo

Não vai ser sempre assim, disseste-me. Nem sempre vou ter esta urgência de ti.
A pouco e pouco vestirei as memórias que de ti construir nas ausências que de ti fizer.
E não será por isso que deixarei de te amar. Sei apenas que será desta maneira.

Apeteceu-me calar-te da única maneira que então sabíamos tão bem. Quase de raiva. Dum futuro que ainda não me apetecia e conhecia doutros passados.

Quero outras histórias! Não me digas em voz alta o que em surdina deixo atrás da porta que agora fechei. Hoje é tão só hoje e recuso-me a viver outros tempos.

Agora quero de ti o que por mim sentes, sem nomes ou apelidos. Sem ontem, nem amanhã.

Não respondas às perguntas que não te fiz ainda.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Desatar o laço


Agora quero que vás.

Preciso de ir para além de nós. Mais ainda. E é na tua ausência que, sei, vou saber de ti.
E de mim.
Desfazer o abraço, desatar o laço e partir.

Não importa quanto tempo dure a distancia. Quero saber quanto sinto, assim.
Longe de ti.

O preço da ternura na ponta dos teus dedos, do calor no rubor da tua face, da alegria que espalhas nos sorrisos abertos e da transparência nas lágrimas que algumas vezes te beijei.

As conversas espalhadas em todas as esquinas, agora em silêncio, da casa que fica vazia, porque te vais, quero colhê-las uma a uma. Em ramo, deitá-las na cama que acolheu o nosso amor e deixá-las aí serenar.
O seu aroma perfumará os tempos em que não estás. Até que as palavras, como pétalas secas se desprendam e um vento qualquer as leve para longe de mim.
Como para longe de mim te mandei

Então, as saudades que de ti sentir, serão a medida de quanto te quero.