segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Deitou abaixo os muros


Dum lado escondia todas as tristezas, as esperas e angustias. Todas as coisas que lhe faziam o coração enrugar-se, tornar-se pequenino sem saber das letras que compunham as palavras que se diziam em momentos assim.

(Lembrava-se bem de desenhar braços em corações vermelhos atravessados por setas que pingavam gotas de sangue e com letras gigantes escrever AMO-TE . Dobrar em quatro, depois em mais quatro, vincar muito bem e passar em segredo à miúda que lhe fazia tremer os joelhos e baixar os olhos... e depois correr e jogar à bola com os outros rapazes, com o coração aos saltos, como se nada fosse)

Do outro lado, era tudo bem mais difícil, apesar de serem bem menos as coisas que lá entravam e por menos tempo.
Sempre por menos tempo. Como se tivessem de viajar por outros caminhos e gentes. Tivessem de ser repartidas por terem tanto valor e serem tão especiais. Únicas.
Não eram precisas palavras. (As palavras estragam tudo.)
Bastavam os gestos sempre revividos, imagens soltas. E as mãos a abrir-se nos braços estendidos no coração que um menino inventou, numa carícia tranquila.
Sem perguntas, aceitar, agradecer. Um olhar, um pestanejar, um pôr do sol, a madrugada, um novo amor.

(Um orgasmo pode durar segundos, mas não deixa de ser um orgasmo. Êxtase. Cumulo do prazer.)

Decidiu ser feliz pela medida de todos os tempos, mesmo sem medida. Tempos de coração acelerado, mesmo com setas atravessadas. Que o tempo não importava. Importava era sentir.
Foi então que deitou abaixo os muros e juntou as partes. Chorou e riu.

Desenhou no coração uma boca a sorrir e das gotas de sangue fez lágrimas.
Os adultos têm destas manias!

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