
Na minha casa aparentemente vazia habitam silêncios onde me encosto e descanso o peso das memórias. Ecoam cânticos nos gestos que o meu corpo desenha a esmo pelas sombras que se esgueiram por entre frestas de janelas mal abertas à luz.
Julgo-me sozinha e estão comigo todos quantos conheci. Nunca me abandonaram. Minha memória inteira alojou-os para sempre em cada pedaço de mim. E sentam-se comigo na mesma mesa e deitam-se na minha cama.
Só no afago e na ternura a ausência se faz presente. Então estremeço e tenho frio mesmo que o rádio me diga que está calor.
Lá fora o tempo passa. Cá dentro também. Numa cadência diferente.
Porque quando abro as janelas a surpresa do que vejo pasma-me. Sempre. Como se tudo fosse novo. E recomeço.
Novas pessoas e memórias, novos gestos e canticos se juntam ao tempo que já passei. Encho de novo a minha casa até agora aparentemente vazia.
Talvez haja afago e ternura que dure por um tempo que se faça Verão.
Talvez seja agora Inverno, não importa.
Há sempre um tempo de fechar as janelas e de guardar o que há para guardar.
Uma casa nunca estará vazia. Só aparentemente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário