quarta-feira, 30 de março de 2011

Não sei



Não sei porque te foste. Como podia saber, se nem de ti sabia? E no entanto estavas em mim, como se não fosses outra coisa senão aquilo que eu era. Como se me pertencesses desde sempre e não fosses para além de mim.
Tu, a semente. Eu, a terra no abraço côncavo. Tu, a água. Eu, a sede. Tu, a nascente. Eu, o leito das tuas águas feitas palavras, tantas vezes grito.
E eu, tua voz.

Fica agora o silêncio, áspero, num uivo longo, longe.

Espero-te no alto da brancura de coisa nenhuma.
É o relógio que ritma a espera. Pausadamente.
Cá dentro o coração. Mal o ouço, mal o sinto. Nada interrompa a tua vinda.

Quando voltares, vestir-te-ei de vermelho. Pintarei teus lábios e teus olhos. Pentearei teus cabelos duas vezes ao dia. Ah! E antes de te deitar cuidadosamente a meu lado, banhar-te-ei. Perfumarei teu banho com misturas delicadas de lavanda e alecrim. Deitarei teu corpo molhado na minha cama e secá-lo-ei beijando-o.

Assim não mais te perderei de mim. Mesmo que ainda te vás.

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