quarta-feira, 6 de abril de 2011

Liso, muito liso


Estendi na cama aqueles lençóis que há muito guardava. Têm o cheiro do rosmaninho colhido nos campos. (Lembras-te quanto gostavas do lilás e verde em canteiros inesperados nas incursões que fazíamos pinhal adentro?) Vagarosamente estendi cada pedaço para que nada lhes perturbasse a lisura.
Prolongo-me no tempo para diminuir a espera. Só.
Em tudo quanto faço me estendo, eu sei. Como se assim me aproximasse mais do que me fica longe.

E sem nada pedir. Nem o teu regresso procurar. Por onde vou só existe o que está para amanhecer.

Um dia colherei rosmaninho no teu corpo e tu em mim como se fôssemos pinhal adentro e deixaremos que o seu cheiro nos embriague. Não fará mal. Teremos sempre esta cama, estes lençóis e o tempo que estendermos nela. Liso, muito liso, para que nada o perturbe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário