quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O destino suspenso

Quase que adiara a ida. O medo do desconhecido e a vontade de o manter assim quase a fizeram deixar de ir. Acabaram-se-lhe as desculpas e foi.
Esperou por muito tempo. Ficou a observar quem chegava. Curiosa, sem impaciência. Casais mudos que se limitavam a olhar o relógio de vez em quando como se tivessem esgotado todas as palavras entre eles. Nem um gesto, um olhar... só a proximidade os denunciava.
Uma a uma as mulheres iam entrando, sózinhas. Umas saíam quase logo a seguir e dirigiam-se rápidamente à saida como se libertassem dum fardo. Outras demoravam mais tempo e traziam alguns papeis que tinham ainda de carimbar. Não falavam. Dirigiam-se a quem as acompanhava e saíam de cara fechada sem uma palavra.
Nessa altura ainda não percebera muito bem porque estava ali. Tinha feito exames de rotina e estava tudo bem. Um telefonema do seu médico alertou-a para um problema sem importância que seria resolvido por um médico da especialidade. Nada de grave. Há três meses atrás. Agora estava ali.
Chegou a sua vez. Entrou. Falou de si a uma médica que nunca tinha visto. Quando perguntou o que se passava com ela já tinham tirado um pedacinho das suas entranhas.
Tranquilizaram-na. Nada de grave. Vai ver que está tudo bem, que trataremos tudo a tempo.
Foi quando ela percebeu que tinha o destino suspenso. Pelo tempo das respostas daquele pedacinho que lhe tinham tirado. Mesmo assim , sorriu.
Levou consigo os papeis e saiu dali. Para cuidar de si.

Nessa noite, como não fazia há muito tempo, arranjou-se, vestiu o vestido mais elegante que tinha e saiu. Sózinha. Não precisou de ninguem para o fazer. Sentiu-se a mulher mais bonita por onde andou. A mais completa.
Iria sentir-se muito mais vezes assim. Prometeu-o a ela mesmo.
Nessa mesma noite.

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