quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sem perceber porquê



Lembrava-lhe o pescoço esguio onde pousava um rosto iluminado por dois olhos grandes na ânsia de ver mundo.
Lembrava-lhe a mansidão nos gestos que desenhavam as mãos compridas de dedos finos.
Não lhe saía dos ouvidos a voz que lhe dera de volta a a paz.

E quando se despedia embrulhava-se nas memórias que não lhe esqueciam. E nunca havia longe ou tarde. Porque mesmo quando partia, ficava.
Todas as despedidas anunciavam regressos feitos das lembranças guardadas num peito que as abraçava.

Agora encosta os lábios na curva que se faz ali junto ao queixo. Como sempre o fizera.
Só lhe falta a luz que os olhos fechados teimam em esconder. E nas mãos juntas sobre o peito calam-se gestos que antes se fizeram.
Dentro dele ecoa a voz que os seus lábios para sempre fechados prendem.

Lavam-lhe a face lágrimas que deixa cair livremente.
E sem perceber porquê, o que sente é paz.

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