segunda-feira, 12 de julho de 2010

História simples

Martelavam ainda na sua cabeça as palavras que lhe ouvira dizer enquanto caminhava apressada levando quase a reboque o pequenino. Este quase parecia voar de tão mal pousar os pés. Mãe, espera, pára. Pedia-lhe ele. E ela acelerava ainda mais o passo como se assim fugisse do que fora dito.
Foram palavras que nem punhos que lhe ouvira. Do soco amparado a custo ficava-lhe o sabor amargo de palavras por dizer. Palavras que lhe ardiam na garganta e se batiam no peito onde o coração desalmado exprimia a sua revolta. Nem as lágrimas vertidas apagavam a secura que lhe sugava a voz.
Era correr que queria. Num outro qualquer lado, doutra qualquer forma, estar.
E ali, agarrada a uma ancora que não a deixava ausentar-se, afunda-se então no soluço que lhe destrava a voz. É num grito que se deixa então cair.
Dois braços ainda pequenos abraçam-na. Depois uma mão afasta ligeiramente o cabelo da testa dela à procura dos olhos marejados. São uns olhos grandes, cheios de mundo para viver, que a fitam á procura de respostas.
É então que, espelhada nos olhos que a miram descobre a força imensa que ainda tem. Pega-lhe no rosto pequenino e deixa sair a pouco e pouco as palavras de conforto que também precisava de ouvir. Amo-te tanto, meu bébé lindo!
Quem os vê de cócoras, ao longe, pensa que foi a mãe que amparou o filho numa queda qualquer. Não adivinha, no menino, a força dos gestos e do olhar que fizeram a mãe levantar-se.

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