domingo, 7 de novembro de 2010

Até um dia...


As janelas estavam sempre abertas. Entravam, noite dentro, as luzes, que a cidade adormecida já não via, pela sala onde ela ficava embrulhada no silêncio. Todos já se passeavam pelos sonhos que só os olhos fechados permitem.

Ela esperava.

Há muito que esperava.
Sabia que a essa hora todas as palavras se juntavam num bailado todas as noites desigual.
Ficava a vê-las dançar. Sorria-lhes, dava-lhes a mão num passe mais complicado. Atrevia-se às vezes a convidá-las a dançar com ela.
Tímida. Logo recuava.
Arregalava os olhos e os sentidos para nada perder. Às vezes as palavras atropelavam-se e ela temia perdê-las.
Saíam desordenadas dos sítios a que pertenciam e deixavam de dizer as coisas como notas desobedientes numa pauta.
A musica saia desafinada e as palavras perdiam a vontade de dançar.
Saíam janela fora, talvez procurando a luz e os sonhos que na cidade a dormir aconteciam.

Levantava-se. Ainda ia até à janela. Talvez as pudesse agarrar...

Voltava, sentava-se em frente ao ecrã do computador e tentava, tecla a tecla pintar a dança que vira as palavras fazerem ainda há pouco.

Faltava-lhe a batuta. Essa varinha mágica, sem ela ficara em pousio. As suas melodias seriam escritas em silêncios. Até um dia...

Nenhum comentário:

Postar um comentário