quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Já ali


Cansada de tanto esperar, acabou por se sentar ali mesmo. Agarrou numa revista que alguém ali deixara e começou a folhear sem qualquer propósito. Já nem sabia se tinha tempo ou se já se fora todo o que tinha. E nada lhe importava.
Quando saíra de casa logo depois de almoço tinha só aquilo para fazer, nada mais. Já desde a semana que passara que estava tudo combinado. Ainda ontem à noite, tinha visto no papelinho que guardara dobrado, o recado que dizia o local e a hora onde se devia encontrar com ele.
Podia ter sido uma brincadeira. E isso nem a incomodava.
Tinha saído naquela noite sozinha e entrara por acaso num bar que nunca antes tinha visto. Apetecia-lhe ver gente, nada mais. Ficar a um canto e olhar quem entrasse e saísse. Ausentar-se de si e imaginar-se na pele de quem entoava os risos. Fabricar histórias que imaginava nos gestos das pessoas que se cruzavam. Era só o que queria.
A primeira coisa que sentiu foi um toque no braço que a fez estremecer. Desculpe, não a quis assustar... Depois a conversa que acabou com o papel que agora transforma num pequeno barco que vai lançar ao rio que vê dali. Levanta-se e dirige-se à amurada.
São passos apressados na calçada que a fazem virar a cara. Não reconhece o dono das palavras que vai atirar à agua. Continua a caminhar.
Espera, deixa-me ir contigo. Reconhece-lhe a voz.

Percebeu agora porque nada lhe importava e o tempo não tinha medida. Percebeu porque era tão fácil deixar tudo assim. Era paz, tranquilidade, que saía dentro dele.

Esperou. Lançaram o barco na água. Sonharam-lhe destinos distantes, sabendo que pereceria já ali.

Nenhum comentário:

Postar um comentário