quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Esperança


Chegava sozinho a meio da tarde. Religiosamente. Procurava um sitio que lhe agradasse e deixava-se ali ficar. Quieto. Sempre muito quieto.
Parado como aquelas estátuas que se plantam no meio das ruas em lugares inusitados, parecendo ter pertencido sempre ali. Só as teias que algumas aranhas ali vão construindo para apanhar moscas imprevidentes, denunciam a quietude e a permanência de tais personagens esverdeadas pelo tempo.
Havia quem por vezes tropeçasse nele. Abanava ligeiramente, mexia preguiçosamente os olhos e retomava a posição inicial. Nada parecia demovê-lo. Se lhe seguíssemos o olhar não saberíamos o que procurar. Parecia ver para além de tudo e de todos.
Antes que a noite viesse, vinham buscá-lo. Bastava darem-lhe a mão e um sorriso. Olhava à sua volta e devagar, dava meia volta preparando-se para regressar a casa.

Contava-se que há muito tempo, teria perdido por ali alguém e não perdera ainda a esperança de a voltar a encontrar, um dia, no rosto de quem por ali passava.

Voltaria sempre. Até poder ou esquecer.

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