sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Quando o Pedro voltar

Se fosses tu a dizer-me as palavras que agora ouço... se fosses tu e não outro.
Outro que não conheço e não sei se quero ouvir ou até... acreditar.

Bebia as tuas palavras, lembras-te bem. Conhecias o meu olhar atento. Sabias que não ouvia nem via mais ninguém. Eras o meu mundo.
E escondeste-te de mim. Deixaste que não visse o que todos os outros já sabiam.

Todos os dias te arranjava a roupa que vestias. Preparava o teu pequeno almoço. Estendia-te a pasta e no beijo que te dava ia todo o meu amor.
Em casa, enquanto trabalhava no meio dos papeis, olhava impaciente o relógio que teimava em fazer-se na hora do teu regresso. Eram as tuas palavras e o teu abraço que eu esperava.
Foste sempre a porta para o mundo que lá fora viajava e eu sonhava entre personagens que cresciam na tela branca do meu computador.

Hoje não foi o barulho da tua chave na porta que me fez levantar desta cadeira onde me agacho agora. Foi um toque que ainda sinto a vibrar na minha cabeça. ( faz que pare, faz que pare!)

Um colega teu ( sim, apresentaste-mo um dia, num jantar daqueles aprumados da tua empresa), cabisbaixo, sem saber muito bem o que dizer e como o dizer, (acompanhado por alguém que suponho ser o médico da empresa)apresentou-se e pediu para entrar e falar comigo. Fui tola em não ter adivinhado.
( e o maldito toque da campainha que não me sai da cabeça!)
E o Pedro, porque não veio ele também? Não se cruzaram? Ele foi trabalhar de manhã.

Porque não me falaste tu destas coisas? Sabes que te ouviria. E agora já sabia o que fazer. Porque não sei muito bem como se fazem estas coisas. Devo chorar, gritar? Ficar zangada?
Fazes-me falta.
Sinto este enorme vazio. E não sei que fazer dele. Nem o que fazer de mim.
O que devo eu fazer? Não aprendi isto ainda. Estou confusa.

Esperem, não pode ser. O Pedro não me disse nada. Ele não me disse que ia morrer.
E agora? Preciso dele. É dele que preciso.
Não entendem?!
Podem ir-se embora. Quando o Pedro voltar eu pergunto-lhe o que hei-de fazer!

Um comentário:

  1. Já sabes Rosa...que tudo quanto leio...de alguma forma procuro algo de mim. Neste teu blog eu diria...que mesmo sem a morte...eu sinto esse vazio...de quem não me disse nada.

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