domingo, 21 de novembro de 2010

Enquanto houver memória


Estava a ouvir a mesma música de sempre. Repetia-a vezes sem conta e não se cansava. Servia-lhe como um vestido que já lhe tomara as formas e acomodava-se a todos os cantos dos seus sentidos, milimétricamente, suavemente. Lá fora, fizesse o tempo que fizesse , acontecesse o que acontecesse, nada a perturbava. Aconchegava-se e deixava-se levar, porque era preciso. Sabia disso. Era o seu espaço de evasão e conforto.

(No carro, em frente ao mar. Lugar e espaço comum.
Fila interminável de gente assim encaixotada, de olhos fixos no mar ao som duma música qualquer.)

E o mundo sempre a acontecer. Quando a noite caía ficavam os reflexos a brilhar presos em rastos de milhares de gotas que a pouca chuva, dum Outono envergonhado, deixava no asfalto. Era tempo de voltar a casa. E ao som da mesma música, ainda a mesma música, pensar no dia seguinte.
Desenrolar o casulo devagarinho, encolher as asas, respirar fundo e lembrar cada instante. Ter a certeza de que é sempre possível voltar. Enquanto houver memória!

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