sexta-feira, 7 de maio de 2010

Não haveria chuva

Estava um dia como o de hoje. Cinzento e triste. A chuva caía miúda e preguiçosa no chão.
Tinha-lhe prometido que sairia. Dessa vez não ficaria em casa a remoer coisas antigas. Mas o tempo em lágrimas arrastou-a para um canto de sua casa. Precisava de sol, de dias alegres e com cor. Esteve assim durante horas. Depois começou a andar de um lado para o outro na casa à procura do que fazer para se alhear de si. Quando o telefone tocou estava perdida a arrumar gavetas e a dizer mal de si por tanta tralha ter juntado. Procurou-o na pilha de coisas que tinha despejado e atendeu. Era ele. Porque não saíste, que desculpa arranjaste desta vez?
Debateu-se em explicações que ele não aceitava. Vou-te aí buscar. Arranja-te. Desligou o telefone e deixou-a a olhar para a ilha que tinha criado à sua volta. Preguiçosamente, levantou-se. Deixaria tudo para arrumar quando voltasse. Teria de se vestir. Meteu-se debaixo do chuveiro e deixou a água correr tépida pelo seu corpo. Pensou no que teria de vestir enquanto se secava e acabou por usar a mesma roupa da véspera. Não se maquilhou como costumava fazer e pôs só um perfume.
Ele chegou entretanto. Estás pálida, miúda. Que se passa contigo? Vem daí.
Levou-a para longe dali. A chuva continuava a cair da mesma forma. Dentro do carro uma música qualquer iluminava os silêncios.
Onde me levas? perguntou a medo. Um gesto de calma e um olhar sereno foi a resposta que obteve. Deixou-se ir. Confiava nele, sempre o fizera. Era o seu porto de abrigo e com ele vencia todas as tempestades.
Dali já via o mar. E como ela gostava do mar! Lembrou-se que tinha sido ali que ele lhe tinha sido apresentado por uma amiga comum. Há muito que já não ia ali. Sentiu o coração bater mais forte. Ele olhou-a de soslaio e percebeu nela a emoção. Continuaram calados até que ele parou enfim o carro. Já era tarde. O dia começava a fazer-se outro e a chuva deixara de cair.
Vamos andar? Saíram do carro e dirigiram-se à praia de mãos dadas. Descalçaram-se e deixaram na areia molhada as pegadas à medida que iam avançando. Em frente o mar como testemunha.
Ele agarrou-lhe ambas as mãos e -la olhar para si. Não quero deixar-te mais tempo sozinha, não quero ver-te mais assim. Vem viver comigo!
Ela baixou os olhos e deixou as lágrimas caírem. Um abraço forte -la poisar a a cabeça no ombro dele. Soluçava quando ele a apertou. Sim, meu amor, liberta-te de tanta tristeza. É tempo de começares a sorrir.
A pouco e pouco ela acalmou-se. Pegou-lhe então no rosto e deixou-lhe um beijo nos lábios.
Ela afastou-se um pouco e de olhos virados para o mar sussurrou-lhe, é aqui que a vou deixar. aqui onde te encontrei. Prometo. Abraçou-o de novo. Foi ao voltar a casa entre tanta coisa que deixara por arrumar que selaram a promessa.
Nessa noite o sol sorriu , o arco-íris coloriu o espaço e no coração deles a alegria fez-se presente.
Não haveria chuva que os desencantasse.

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