segunda-feira, 31 de outubro de 2011

conversas imperfeitas


"perguntava-lhe ele, tu sabes o que estás a representar para mim?
conheces mesmo a tua dimensão dentro de mim?
num sentido libertador e de união comigo próprio?
e ela, surpresa, portadora de novas, sempre diferentes e avassaladoras coisas, interroga-o de volta, mas como, meu amor?
ele que quase sempre lho diz, replica, eu tenho tentado, acho que vou ter de tentar todos os dias, dizer-te como.
não te esgotes, eu sei, também eu o sinto. no amor que te tenho.
amo-te. respondeu-lhe ele."

os dias passaram. as palavras também.
como quase todas as coisas habituaram-se aos contornos das horas, dos rituais. mecânicos.
esqueceram-se as palavras que se inventaram. os códigos. os sinais. inventaram-se palavras que falavam de mudanças que pareciam normais.
esquecer o que se tinha dito era a regra. fazer história e criar memória não fazia sentido. o futuro era um tempo que não se conjugava já.

todas as conversas do passado eram conversas pretéritas imperfeitas.

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