domingo, 11 de abril de 2010

A lágrima


O velho olhava o mar à procura das memórias que o tempo e a doença lhe roubaram. Fixava o olhar vazio num ponto distante e deixava-o aí amarrado como quem pesca e espera.

Atrás dele dois jovens presos no olhar um do outro. Ele deixa viajar a sua mão por dentro da blusa dela e pressente-lhe no mamilo a urgência de mais. Sôfregos procuram na boca um do outro o mar por onde querem navegar. As mãos como remos avançam corpo dentro e conquistam o que há para conquistar.

Quando o velho se vira, vê um casal abraçado como se fossem um só. Uma lágrima solta-se-lhe e rola pela sua face até ao canto do lábio. Sabe-lhe ao sal do seu mar.
São as lembranças que voltam e o seu barco entra mar dentro à força gigantesca dos braços que agora mal pode levantar. Vencidas as ondas, flutua agora quase sereno em direcção ao horizonte. Embora cansado, abate-se sobre ele o prazer de marejar.
Uma vez mais.

Um comentário:

  1. As lágrimas podem ser como o mar, quando nos chegam ao canto da boca ou podem ser esquecimento, quando se diluem na chuva. Obrigado pelo comentário. P.

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