sexta-feira, 2 de abril de 2010

Saudade


Uma caixa estreita e comprida abraçava-lhe o corpo agora sem vida. Nem as rendas e os folhos lhe tiravam a frieza que teimávamos em vão aquecer. Parecia-nos impossível tanto frio sair daquele corpo quando estávamos habituados a rosetas como maças vermelhas a brilhar, uma de cada lado da face.
Tentava imaginar que voltava de novo ao ventre de que um dia tinha sido retirada. Desta vez a mãe seria a terra. O útero, aquela caixa onde depositei a sua ultima oração. E várias flores. As de que ela gostava. Um terço: o que ela desfiava noite após noite. E as nossas preces.
Assim alheava-me da sua partida e preparava-me para uma chegada a um lugar qualquer. Um lugar onde ela me esperaria até um dia nos encontrarmos. Porque também eu faria a viagem. E num qualquer ponto de encontro renasceria como ela o faria agora para pormos a conversa em dia.
Talvez a melhor despedida se traduzisse num "até já" sem data marcada e não fossem precisas lágrimas para um adeus assim. E no entanto em desgoverno elas teimavam em cair porque por algum tempo só nas minhas memórias a vou encontrar. É a saudade que vem para ficar.

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