sexta-feira, 9 de abril de 2010

A ultima coisa

Da ultima coisa de que se lembrava era do cheiro que andava pelo ar. Um cheiro que lhe recordava a meninice e as idas para a escola. Os muros cobertos de flores lilases libertavam aquele mesmo cheiro adocicado.
Apeteceu-lhe ficar ali sempre. Não lhe doeu a espera que sabia não ia ter resultado. Vagueou por tempos antigos e deixou as horas caírem sem se dar conta. Depois veio-lhe uma súbita vontade de partilhar tudo isso com ele e apercebeu-se da sua ausência. Tinha-lhe dito que não estaria com ela. E -lo.
Levantou-se e voltou ao que prometera a si mesmo fazer. Cumprir os trajectos que traçaram a dois. Entrou no carro, pôs música bem alta e seguiu viagem. Hoje saltaria algumas coisas. Perdera-se demasiado tempo em sonhos. Era preciso voltar ainda cedo a casa.
Não sabe como fez a viagem. Não se lembra do caminho. Só mesmo do odor daquela planta de que não sabia o nome. Apetecia-lhe ter trazido um pequeno ramo. Teria de lá voltar.

Doía-lhe ter estado sozinha. Pior, não ter estado com ele.
Essa sim, foi a ultima coisa que lhe ficou na memória.

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