quinta-feira, 8 de abril de 2010

Voltar atrás.

Eram já muitos os dias que chorava a sua ausência. Viriam muitos mais. Não secava aquele caudal em que ele se afundava lentamente. Deixava-se ir. Nada lhe fazia ter vontade de voltar à superfície que cada vez ficava mais longe.

Tinha-lhe dedicado todo o seu tempo. Deixara amigos e família. Só tivera olhos para ela. A única razão da sua vida era ela. E agora não a tinha. Escapara-se-lhe duma forma imprevisível e prematura. Sonhara-a para sempre. Como podia agora viver sem a ter a seu lado? Percorrer as mesmas ruas, olhar os mesmos pôr do sol junto aquele mar de que ambos tanto gostavam, não mais seria possível.

Mirrava de tanto chorar. Em contraste com a Primavera que se espreguiçava lá fora o Inverno descia dentro dele. Era um homem velho e quebrado que de vez em quando saía à rua. Parecia carregar a morte dentro de si. O coração, de luto vestido, parecia despedir-se de tão leve bater.

As noites traziam-na viva nas memórias e sentia falta do corpo que tantas vezes abraçara. Ao lado, a cama despida, despedira-se das formas que ela um dia deixara. Nem uma camisola velha para lhe sentir o cheiro... Só a sua falta.
Como queria poder voltar atrás!

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