domingo, 18 de abril de 2010

Sozinha

Ela, assim como ele, não era de pedir. Aceitava o que tinha e achava que nada mais devia querer.
Lembra-se da ultima vez que o convidou para estarem juntos, beberem um café, pôr a conversa em dia. Ouviu-lhe um não sem qualquer explicação. Não mais voltou a insistir.
Deixou que o silêncio se instalasse comodamente entre os dois. Rarearam as mensagens, acabaram-se os telefonemas.

Não é que tivesse saudades dessas coisas. O facto é que até lhe sabia bem esse afastamento. Achara sempre que ele quisera mais do que alguma vez tiveram. Ela não lho podia dar. Oferecia-lhe uma amizade que ele rejeitou. Um convívio saudável e sem obrigações. Ele imaginara outra coisa. Queria mais e sentira-se rejeitado. Afastou-se. Afastaram-se em direcções opostas.

Na verdade, pensava só como se perde, quando se vê um único propósito nas coisas. Sejam elas o que forem. Como quando procuramos chegar a algum sitio e com a pressa perdemos a beleza da caminhada. Chega-se onde se quer, é certo. Sem distracções mas mais pobres. Pelo caminho deixámos o que nunca viremos a descobrir. E não há forma de voltar atrás. Talvez nem haja tal desejo...

Olha à sua volta e observa as crianças que brincam na areia aproveitando conchas e paus que a maré trouxe. Constroem fortes e castelos e são os príncipes e princesas dum reino ali inventado.
E as ondas num vai e vem. Como a vida, pensa ela. Uns dias beija-nos os pés, outros atira-nos ao chão. Como o castelo que a onda agora engoliu. E a pequenada retoma todo o trabalho agora um pouco mais longe não vá o mar querer lambê-lo outra vez.

Retomou também ela a caminhada. Sabia-lhe bem andar sozinha à beira mar.
Sempre lhe soube bem andar sozinha. Parecia-lhe ver mais e melhor.

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