sexta-feira, 5 de março de 2010

O bocejo e a lágrima

A principio, sabes bem, o que eles diziam não fazia sentido. Teres morrido significava que não voltavas mais para junto de nós, de mim. E para isso eu não estava ainda preparada. Na minha cabeça as histórias mais inverosímeis foram surgindo para explicar tudo quanto ia acontecendo. E eu sabia que ias voltar.
Lembro-me de quando entravam e irrompiam em choro e eu a par com eles como se não o pudesse evitar. Como com os bocejos, sabes? Parece quase contágio. Depois parava, o silêncio voltava e na minha cabeça as histórias continuavam a rolar como um filme... parecido com aquele que via quando o telefone tocou e tudo começou a mudar cá em casa. Tu não ias voltar mais.

E a minha cabeça a latejar... e as lágrimas a cair como bocejos. Queria pará-las e fazer rewind no filme que não parava de acontecer até que te vi.
Deitado com um ar solene. O sorriso que te deixara há muito não o procurei. Fecharas os olhos e não te mexias. Fiz o teu jogo. Não te iria denunciar. Sabia que já há muito tempo te querias ausentar dali, daquela vida. Era assim que o fazias.
Quando nos fossemos todos embora, levantar-te-ias e seguirias então o teu caminho. Só eu saberia o teu segredo. Nunca o diria a ninguém.

Só nunca percebi aquela mancha vermelha num pedaço de algodão que te vi na cabeça. Preferi pensar que era mais um disfarce.

No entanto, agora posso dizer-te e sei que me vais desculpar, as lágrimas que então me caíram deixaram de ser como bocejos.

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