sábado, 27 de março de 2010

Os "namoros"

Ao meu lado os risinhos irritantes e a vozinha mimada duma pré adolescente desviam-me a atenção da paisagem relaxante do mar. Senta-se ao colo, onde mal cabe, daquela que suponho de imediato ser a namorada do pai. As duas brincam como duas crianças sob o olhar nervoso do pai e algumas chamadas de atenção para a mais nova.
O jogo de sedução continua bem ao agrado da adolescente que invade o terreno da mais velha sem que esta se imponha. Deixa-a remexer a carteira, espreitar tudo quanto está no telemóvel como se não houvesse limites na sua privacidade.
Só o pai com algum receio vai chamando a atenção usando os dois nomes da pequena alertando-a para o facto de estar a cansar e a abusar da paciência da namorada.
Sim, porque pelo que não pude evitar de ouvir, esta é a namorada do pai. E a cena que presenciei foi uma cena de namoro entre namorada e filha de namorado como ela própria por brincadeira a define.
Fico por momentos a pensar. Em tudo o que envolve estas cenas de sedução e namoro. Nestas relações de quase competição. De quem ganha e de quem perde ou se há apenas vencedores.
Agrada-me pensar que nunca é demais a atenção que se dá a uma criança. Venha ela de onde vier. Nunca são demais os afectos. E que é bom que quem partilha momentos com os nossos filhos os saiba seduzir, amar quase tão bem como nós. Mas saber também que para os ganhar não é preciso fazê-los perder: os valores que lhes transmitimos, o saber, os caminhos que lhes ajudamos a traçar, o farol que somos nós afinal.
Que alguém tenha o bom senso de ser o fiel nesta balança. Porque as crianças, os adolescentes também amam quem lhes diz não, se souberem a razão.

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